quarta-feira, 31 de março de 2010

"Luta, Substantivo Feminino"

Há exatos 46 anos acontecia o Golpe Militar de 1964. A data passaria em branco se não fosse providencial lembrança da Maria Regina Maneschy e do Carlos Sampaio, que me presentearam com texto de autoria de José Ribamar Bessa Freire sobre o livro "Luta, Substantivo Feminino – mulheres torturadas, desaparecidas e mortas na resistência à ditadura", lançado na quinta-feira passada, 25, em São Paulo. O livro tem relatos de mulheres torturadas durante a ditadura, além de perfil de assassinadas e desaparecidas.

Segue o texto sobre o livro:

São mulheres de diferentes cidades do Brasil. Algumas amamentavam. Outras, grávidas, pariram na prisão ou, com a violência sofrida, abortaram. Não mereciam o inferno pelo qual passaram, ainda que fossem bandidas e pistoleiras. Não eram. Eram estudantes, professoras, jornalistas, médicas, assistentes sociais, bancárias, donas de casa. Quase todas militantes, inconformadas com a ditadura militar que em 1964 derrubou o presidente eleito. Foram presas, torturadas, violentadas. Muitas morreram ou desapareceram lutando para que hoje nós vivêssemos numa democracia. As histórias de 45 dessas mulheres mortas ou desaparecidas estão contadas no livro "Luta, Substantivo Feminino", lançado quinta-feira passada, na PUC de São Paulo, na presença de mais de 500 pessoas. O livro contém ainda o testemunho de 27 sobreviventes e muitas fotos. Se um poste ouvir os depoimentos dilacerantes delas, o poste vai chorar diante da covardia dos seus algozes. Dá vergonha viver num mundo que não foi capaz de impedir crimes hediondos contra mulheres indefesas, cometidos por agentes do Estado pagos com o dinheiro do contribuinte.
Rose Nogueira - jornalista, presa em 1969, em São Paulo, onde vive hoje. "Sobe depressa, Miss Brasil", dizia o torturador enquanto me empurrava e beliscava minhas nádegas escada acima no Dops. Eu sangrava e não tinha absorvente. Eram os "40 dias" do parto. Riram mais ainda quando ele veio para cima de mim e abriu meu vestido. Segurei os seios, o leite escorreu. Eu sabia que estava com um cheiro de suor, de sangue, de leite azedo. Ele (delegado Fleury) ria, zombava do cheiro horrível e mexia em seu sexo por cima da calça com um olhar de louco. O torturador zombava: "Esse leitinho o nenê não vai ter mais?".
Izabel Fávero - professora, presa em 1970, em Nova Aurora (PR). Hoje, vive no Recife, onde é docente universitária: "Eu, meu companheiro e os pais dele fomos torturados a noite toda ali, um na frente do outro. Era muito choque elétrico. Fomos literalmente saqueados. Levaram tudo o que tínhamos: as economias do meu sogro, a roupa de cama e até o meu enxoval. No dia seguinte, eu e meu companheiro fomos torturados pelo capitão Júlio Cerdá Mendes e pelo tenente Mário Expedito Ostrovski. Foi pau de arara, choques elétricos, jogo de empurrar e ameaças de estupro. Eu estava grávida de dois meses, e eles estavam sabendo. No quinto dia, depois de muito choque, pau de arara, ameaça de estupro e insultos, eu abortei. Quando melhorei, voltaram a me torturar".
Hecilda Fontelles Veiga - estudante de Ciências Sociais, presa em 1971, em Brasília. Hoje, vive em Belém, onde é professora da Universidade Federal do Pará. "Quando fui presa, minha barriga de cinco meses de gravidez já estava bem visível. Fui levada à delegacia da Polícia Federal, onde, diante da minha recusa em dar informações a respeito de meu marido, Paulo Fontelles, comecei a ouvir, sob socos e pontapés: 'Filho dessa raça não deve nascer'. Me colocaram na cadeira do dragão, bateram em meu rosto, pescoço, pernas, e fui submetida à 'tortura cientifica'. Da cadeira em que sentávamos saíam uns fios, que subiam pelas pernas e eram amarrados nos seios. As sensações que aquilo provocava eram indescritíveis: calor, frio, asfixia. Aí, levaram-me ao hospital da Guarnição de Brasília, onde fiquei até o nascimento do Paulo. Nesse dia, para apressar as coisas, o médico, irritadíssimo, induziu o parto e fez o corte sem anestesia".
Yara Spadini - assistente social presa em 1971, em São Paulo. Hoje, vive na mesma cidade, onde é professora aposentada da PUC. "Era muita gente em volta de mim. Um deles me deu pontapés e disse: 'Você, com essa cara de filha de Maria, é uma filha da puta'. E me dava chutes. Depois, me levaram para a sala de tortura. Aí, começaram a me dar choques direto da tomada no tornozelo. Eram choques seguidos no mesmo lugar".
Inês Etienne Romeu - bancária, presa em São Paulo, em 1971. Hoje, vive em Belo Horizonte. "Fui conduzida para uma casa em Petrópolis. O dr. Roberto, um dos mais brutais torturadores, arrastou-me pelo chão, segurando-me pelos cabelos. Depois, tentou me estrangular e só me largou quando perdi os sentidos. Esbofetearam-me e deram-me pancadas na cabeça. Fui espancada várias vezes e levava choques elétricos na cabeça, nos pés, nas mãos e nos seios. O 'Márcio' invadia minha cela para 'examinar' meu ânus e verificar se o 'Camarão' havia praticado sodomia comigo. Esse mesmo 'Márcio' obrigou-me a segurar seu pênis, enquanto se contorcia obscenamente. Durante esse período fui estuprada duas vezes pelo 'Camarão' e era obrigada a limpar a cozinha completamente nua, ouvindo gracejos e obscenidades, os mais grosseiros".
Ignez Maria Raminger - estudante de Medicina Veterinária presa em 1970, em Porto Alegre, onde trabalha atualmente como técnica da Secretaria de Saúde. "Fui levada para o Dops, onde me submeteram a torturas como cadeira do dragão e pau de arara. Davam choques em várias partes do corpo, inclusive nos genitais. De violência sexual, só não houve cópula, mas metiam os dedos na minha vagina, enfiavam cassetete no ânus. Isso, além das obscenidades que falavam. Havia muita humilhação. E eu fui muito torturada, juntamente com o Gustavo [Buarque Schiller], porque descobriram que era meu companheiro".
Dilea Frate - estudante de Jornalismo presa em 1975, em São Paulo. Hoje, vive no Rio de Janeiro, onde é jornalista e escritora. "Dois homens entraram em casa e me sequestraram, juntamente com meu marido, o jornalista Paulo Markun. No DOI-Codi de São Paulo, levei choques nas mãos, nos pés e nas orelhas, alguns tapas e socos. Num determinado momento, eles extrapolaram e, rindo, puseram fogo nos meus cabelos, que passavam da cintura".
Cecília Coimbra - estudante de Psicologia presa em 1970, no Rio. Hoje, presidente do Grupo Tortura Nunca Mais e professora de Psicologia da Universidade Federal Fluminense: "Os guardas que me levavam, frequentemente encapuzada, percebiam minha fragilidade e constantemente praticavam vários abusos sexuais contra mim. Os choques elétricos no meu corpo nu e molhado eram cada vez mais intensos. Me senti desintegrar: a bexiga e os esfíncteres sem nenhum controle. ?Isso não pode estar acontecendo: é um pesadelo? Eu não estou aqui??, pensei. Vi meus três irmãos no DOI-Codi/RJ. Sem nenhuma militância política, foram sequestrados em suas casas, presos e torturados".
Maria Amélia de Almeida Teles - professora de educação artística presa em 1972, em São Paulo. Hoje é diretora da União de Mulheres de São Paulo. "Fomos levados diretamente para a Oban. Eu vi que quem comandava a operação do alto da escada era o coronel Ustra. Subi dois degraus e disse: 'Isso que vocês estão fazendo é um absurdo'. Ele disse: 'Foda-se, sua terrorista', e bateu no meu rosto. Eu rolei no pátio. Aí, fui agarrada e arrastada para dentro. Me amarraram na cadeira do dragão, nua, e me deram choque no ânus, na vagina, no umbigo, no seio, na boca, no ouvido. Fiquei nessa cadeira, nua, e os caras se esfregavam em mim, se masturbavam em cima de mim. Mas com certeza a pior tortura foi ver meus filhos entrando na sala quando eu estava na cadeira do dragão. Eu estava nua, toda urinada por conta dos choques".
São muitos os depoimentos, que nos deixam envergonhados, indignados, estarrecidos, duvidando da natureza humana, especialmente porque sabemos que não foi uma aberração, um desvio de conduta de alguns indivíduos criminosos, mas uma política de Estado, que estimulou a tortura, a ponto de garantir a não punição a seus autores, com a concordância e a conivência de muita gente boa "em nome da conciliação nacional".
No lançamento do livro na PUC, a enfermeira Áurea Moretti, torturada em 1969, pediu a palavra para dizer que a anistia foi inócua, porque ela cumpriu pena de mais de quatro anos de cadeia, mas seus torturadores nem sequer foram processados pelos crimes que cometeram: "Uma vez eu vi um deles na rua, estava de óculos escuros e olhava o mundo por cima. Eu estava com minha filha e tremi".
Os fantasmas que ainda assombram nossa história recente precisam ser exorcizados, como uma garantia de que nunca mais possam ser ressuscitados - escreve a ministra Nilcea Freire, ex-reitora da UERJ, na apresentação do livro, que para ela significa o "reconhecimento do papel feminino fundamental nas lutas de resistência à ditadura".
(...)
A lembrança de crimes tão monstruosos contra a maternidade, contra a mulher, contra a dignidade feminina, contra a vida, é dolorosa também para quem escreve e para quem lê. É como o sacrifício da missa para quem nele crê. A gente tem de lembrar diariamente para não ser condenado a repeti-lo: fazei isso em memória delas.

terça-feira, 30 de março de 2010

Anos depois...

A afirmação que me chamou atenção foi: "Continuo preso. Fui uma espécie de exemplo de justiça superexposto pela mídia, em um país repleto de impunidade. A verdade é que fiz bobagens, mas sou inofensivo, e por isso as pessoas não têm medo de me agredir na rua. Já chegaram a me cuspir no rosto, em um shopping. Se eu fosse um bandido de verdade, um Marcola, você acha que alguém gritaria 'Assassino!' para mim?" A bobagem foi o assassinato da atriz Daniella Perez, em 28 de dezembro de 1992, com 18 golpes de tesoura (quatro perfurações no pescoço, oito no peito e mais seis que atingiram pulmões e outras regiões).
Notícia do crime
O assassino confesso foi Guilherme de Pádua, colega de elenco da vítima na novela "De Corpo e Alma" (TV Globo, 1992), juntamente com sua mulher, Paula Thomaz. Segundo o homicida, Paula estaria com ciúmes de Daniella e, para provar que não existia um caso com sua colega de elenco, Guilherme a teria atraído para conversar em um matagal onde teve início uma grande confusão que resultou na morte que chocou o país.
Paula Thomaz e Guilherme de Pádua
No dia seguinte, Guilherme foi um dos primeiros a comparecer no velório da colega de novela, condolências ofertadas ao viuvo, Raul Gazolla, também ator, e à mãe da vítima, a novelista Glória Perez. Descoberto o crime por meio de testemunha que anotou a placa do carro utilizado no crime, Guilherme foi julgado e condenado por homicídio duplamente qualificado, com motivo torpe e impossibilidade de defesa da vítima, mesma pena de Paula Thomaz. Marido e mulher cumpriram apenas seis dos 19 anos a que foram condenados, o que provocou, inclusive, mudança na legislação penal brasileira.
A mãe, Glória Perez, e o viuvo, Raul Gazolla
Livre há quase 11 anos, Guilherme voltou para a cidade natal, Belo Horizonte, virou evangélico e casou. À época da reportagem que serve de base para esse texto (15/10/2006), Guilherme trabalhava para a sua igreja, tinha vergonha de revelar o quanto ganhava e se dizia eterno perseguido, a bobagem que lhe marcou tal qual boi em rebanho de eterna penitência. A nova mulher, Paula Maia, 22 anos, contava não saber, no início, se conseguiria suportar o fardo de se relacionar com um famigerado, no pior sentido da fama. Suportou e casou, festa para 300 convidados, e afirmava: "Hoje vejo que não tinha homem melhor para me casar.Tenho vontade de pegá-lo no colo, protegê-lo, é o meu bebezão." Mas casar foi prova de resistência, relatava Guilherme: "Você acredita que teve uma enquete na TV para saber se eu tinha o direito de me casar?" No final, o repórter Paulo Sampaio pergunta: Você se considera um assassino? A resposta: "Andei fora do caminho de Deus. Na nossa igreja não existe pecadinho e pecadão. Todos estão perdoados, a partir do momento do batismo, mas perdoados por Deus. Na rua, pode-se continuar a pagar..."
Daniella Perez - 11/08/1970 - 28/12/1992

sexta-feira, 26 de março de 2010

Conheçam Irena Sendler

Confesso que até semana passada não tinha lido nem escutado falar de Irena Sendler. Foi então que a Nicole Fialho me enviou e-mail relatando fatos da vida desta polonesa, e era tanta bravura, tanta coragem e humanidade em uma pessoa só, que tive dificuldade em crer que aquilo pudesse ser verdade. Como poderia uma mulher ter feito tanto e ser uma quase desconhecida? Incrédulo, me bastou uma rápida googada para verificar que as informações eram verdadeiras e, quanto mais lia, mais ficava impressionado com a coragem dessa personagem quase inimaginável.

Irena Sendler

Irena Sendler, nascida em 15 de fevereiro de 1910, era enfermeira do Departamento de Bem Estar Social de Varsóvia quando a Alemanha nazista invadiu a Polônia em 1939. Varsóvia era, naquela época, a capital judia da Europa com cerca de 350 mil judeus, alvo certeiro à sanha genocida de Hitler e seus seguidores. Durante os anos tenebrosos de ocupação, Irena Sendler ajudou como pôde, sem distinção de credo ou raça, a todos que necessitassem de auxílio.

Em 1942 os nazistas criaram o que viria a ser chamado de Gueto de Varsóvia, um emaranhado de prédios sujos e infestado de pragas onde os judeus "pernoitavam" antes da decida derradeira ao inferno. O plano era mantê-los ali, à mercê do frio, da fome e de doenças, forma cruel e desumana de tentar diminuir a "demanda" rumo aos Campos da Morte.

Gueto de Varsóvia

Diante disso, Irena Sendler não se conteve e procurou novas formas de ajudar os que mais precisavam: obteve junto aos órgãos sanitários autorização que lhe dava acesso ao Gueto e começou trabalho de prevenção de epidemias - os alemães, apesar de desejarem a morte de judeus por conta das doenças, tinham pavor de que possíveis epidemias saíssem de controle e acabassem por atingir os poloneses não-judeus e os membros do exército nazista.

Irena Sendler foi trabalhar no local mais perigoso e insalubre da Varsóvia e, como forma de solidariedade ao povo judeu, ao caminhar por entre os condenados, ostentava a mesma estrela de David que os marcava. Dentro do Gueto, Irena Sendler elegeu como sua missão salvar os mais vulneráveis à barbárie: as crianças.

Crianças judias no Gueto de Varsóvia

Assim, pôs-se em contato com famílias e entidades de fora do Gueto que aceitassem receber e proteger os pequenos judeus que seriam retirados de forma clandestina. Ao mesmo tempo, começou a propor às famílias a idéia. A pergunta que mais escutou foi: "Pode prometer que meu filho viverá?". Irena Sendler pensava: "O que podia prometer quando nem sequer sabia se eu conseguiria sair viva do Gueto". A única certeza era que permanecer ali significaria morte certa para todos, por algo que tinha de ser feito urgentemente.


E foi assim que, ao longo de um ano e meio, sob o risco diário de ser capturada, Irena Sendler conseguir retirar cerca de 2.500 crianças judias do Gueto de Varsóvia. Para isso ela utilizou todos os meios de que dispunha: começou a recolhê-las em ambulâncias como vítimas de tifo. Depois, foram sacos, cestos de lixo, caixas de ferramentas, carregamentos de mercadorias, sacas de batata, caixões - qualquer lugar onde pudesse esconder uma criança servia para livrá-las daquela irracionalidade. Muitas vezes Irena Sendler teve que sedar os pequenos fugitivos como forma de evitar serem descobertos. Depois, treinou um cachorro para latir diante dos soldados nazistas, forma de abafar qualquer barulho que revelasse o esquema e afastar os algozes e suas rotineiras verificações.

E pensando no dia em que a Guerra terminaria, Irena Sendler manteve, por todo o tempo de seu trabalho, tal qual tesouro precioso, uma detalhada lista com as informações de todas as crianças retiradas: nome judeu, nome novo, família de origem e nova família ou instituição que as abrigava.

Irena Sendler retirou crianças do Gueto até 20 de outubro de 1943, quando foi descoberta e presa pela Gestapo. Levada para a Prisão de Pawiak, foi sistematicamente torturada e humilhada. Durante as contínuas sessões de tortura, Irena Sendler teve os ossos dos pés e das pernas quebrados e, mesmo assim, não revelou nenhum nome ou localização de crianças ou colaborador. Foi condenada à morte, mas acabou salva graças à intervenção de seus companheiros de luta: um oficial alemão, devidamente comprado pela resistência polonesa, ao lhe guiar para um "interrogatório extra", gritou em polaco - CORRA! E ela correu.

No dia seguinte seu nome constava na lista de poloneses executados, e, dada como morta, Irena Sendler pôde, com nome falso, continuar a fazer o bem possível até o fim da guerra.

Os nomes de seus pequenos judeus, ela havia enterrado em garrafas de vidro no quintal de uma vizinha, já prevendo o dia em que seria capturada. Terminada a guerra, a lista foi entregue a Adolfo Berman, primeiro presidente do Comitê de Salvação dos Judeus Sobreviventes, para que pudesse tentar encontrar as famílias e lhes entregar suas crianças. Infelizmente a maior parte das famílias tinha sucumbido nos campos nazistas, mas as identidades não se perderam.

Por conta da ocupação comunista da Polônia, a história de Irena Sendler não foi divulgada e nem era conhecida. Só foi revelada em 1999, quando quatro jovens americanas da região rural do Kansas, Estados Unidos, instigadas por um professor, começaram a pesquisar sobre a polonesa, com base em uma curta nota de jornal – “Os outros Schindler´s”. Para surpresa das estudantes, Irena Sendler estava viva e bem de saúde, com 90 anos, morando ainda na Polônia.

Estabeleceram contato, enviaram e recebera cartas, fotos, informações e documentos. Acabaram por escrever uma peça de teatro intitulada "A Vida num Pote de Vidro", que atravessou o país, alcançou o Canadá, a Europa e, finalmente, a própria Polônia. A história virou filme (O Coração Corajoso de Irena Sendler, 2009), infelizmente pouco conhecido e divulgado. Em 2001, quando houve o primeiro encontro das alunas com Irena Sendler, na Polônia, existia somente uma página na internet sobre ela; hoje são mais de 320 mil.

Em 1965, a organização Yad Vashem de Jerusalem outorgou-lhe o título de Justa entre as Nações e nomeou-a cidadã honorária de Israel, mas o prêmio não foi entregue já que o governo comunista polonês proibiu Irena Sendler de viajar. Em 1991, já sob a égide "democrática", o prêmio foi reafirmado e entregue.

Em Novembro de 2003, o presidente polonês Aleksander Kwasniewski concedeu-lhe a mais alta distinção civil da Polônia: a Ordem da Águia Branca. Em 2007, foi condecorada com a Ordem do Sorriso, prêmio da ONU – a mais importante distinção concedida àqueles que buscam o bem de crianças de todo o mundo. Ainda em 2007, Irena Sendler foi apresentada como candidata para o prêmio Nobel da Paz pelo Governo da Polônia, iniciativa do presidente Lech Kaczynski apoiada pelo Estado de Israel e pela Organização de Sobreviventes do Holocausto. O prêmio, no entanto, foi dado ao ex-vice-presidente norte-americano Al Gore, por conta de um slide-show em powerpoint sobre o clima global.

Comitê do Prêmio Nobel - "Que pena... Sem ursos polares."

Irena Sendler morreu em 12 de maio de 2008, na Polônia, sem nunca ter se considerado uma heroína. Dizia somente ter feito o justo e o correto no momento necessário, segundo ensinamentos paternos baseados na bondade e na humanidade. Após salvar 2.500 crianças do Gueto de Varsóvia, e salvá-las uma segunda vez mantendo segredo de suas identidades enquanto aprisionada, nos seus últimos anos Irena Sendler esteve presa a uma cadeira de rodas, consequência da tortura e barbárie sofrida nas mãos da Gestapo!

Nenhuma honraria seria capaz de enaltecê-la o suficiente, e sem dúvida não precisou de reconhecimentos para validar sua coragem e amor. Somos nós que precisamos oferecer admiração e gratidão, pois no espelho de Irena Sendler, a despeito de todos os horrores de seu tempo, fica enaltecida a nossa própria humanidade. Lia Diskin.


quarta-feira, 24 de março de 2010

Toscano se foi

Acaba de falecer, no Hospital Guadalupe, o José Luiz Toscano. Toscano, como todos o conheciam, foi coordenador da Guarda de Nossa Senhora de Nazare durante muitos anos, nestes quase 33 de serviço voluntário à Santa. Para mim era o tio Toscano carinhoso e brincalhão, pai da Priscila e do Gustavo, companheiro de sempre, de todas as horas, da tia Eulália. Não sei sobre o velório, mas passarei maiores informações assim que as tiver.

Sobre Cirurgia Plástica

Em recente decisão, o Tribunal de Justiça do Estado do Pará determinou que o cirurgião plástico Alexandre Calandrini (e dois integrantes de sua equipe – Arlen Jones Cardoso Tavares e Simone Valéria Bentes Chaves) irá enfrentar o Tribunal do Júri pela morte de Roberta Pires Teixeira de Miranda, 25 anos, em 2006.

Particularmente - e essa é MINHA opinião, não custa ser redundante - sou contra cirurgia estética por razões bem simples: tenho verdadeiro pavor de quase todos os procedimento médicos, desde a simples picada da injeção! O que dizer do procedimento cirúrgico que envolve anestesia, um mundarel de médicos e enfermeiras?

Por essa razão, medo, não optaria por este tipo de cirurgia e nem daria opinião favorável. Acho que cirurgia, qualquer que seja, é coisa bem séria e deve ser feita somente por motivos extremamente necessários.

Obviamente há a cirurgia plástica com motivo reparador, cirurgia que muitas vezes serve para curar ou amenizar traumas ou feridas que insistem em encarar. Há também aqueles procedimentos estéticos que, mesmo não "necessários", podem trazer enormes benefícios no que se refere à estima das pessoas, um lado psicológico que não pode ser ignorado. Mas cada caso é um caso, e ninguém melhor do que o médico para fazer tal julgamento.

Sobre tal assunto, encontrei um texto muitíssimo bom no Blog de Plástico, de Carlos André Meyer, médico, que fala com propriedade e franqueza sobre o assunto:
Existe um ditado no meio médico que diz: ‘só tem complicações quem opera’. Fazendo uma analogia com o velho esporte bretão, é a versão médica do ‘só perde pênalti quem bate’. Ato cirúrgico e complicações são indissociáveis. Não há cirurgia, por mais simples que seja, com risco zero de complicação. Dentre as complicações possíveis, a mais temida, obviamente, é a morte. Infelizmente vivemos em uma época em que a Cirurgia Plástica é banalizada, sendo apresentada ao público, por médicos inescrupulosos, como simples procedimentos cosméticos. Isso faz com que pacientes desconheçam ou menosprezem os riscos envolvidos em uma Cirurgia Plástica. Não há Cirurgia Plástica sem risco. Naturalmente, os riscos são menores do que em outras áreas cirúrgicas da medicina, uma vez que os pacientes são saudáveis e, em sua maioria, jovens. Um trabalho da American Society of Plastic Surgeons estudou 400.000 Cirurgias Plásticas realizadas nos E.U.A no ano de 2004. Em 0,34% dos casos ocorreram complicações sérias e em 0,0019% óbito (1 a cada 51.549 cirurgias). O intuito deste post não é amedrontar ninguém, muito pelo contrário, afinal vivo das cirurgias que faço. Porém, todo paciente tem que ter a consciência que Cirurgia Plástica é coisa séria. Envolve riscos, por menores que sejam. Desta forma, a segurança nunca deve ser negligenciada. Por isso que não tenho medo de parecer um disco arranhado ao ficar repetindo a exaustão que se você deseja submeter-se a uma Cirurgia Plástica consulte-se com um Cirurgião Plástico, certifique-se que ele é membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e exija que a cirurgia seja realizada em um centro cirúrgico de uma clínica ou hospital que ofereçam todas as condições necessárias para que o procedimento seja realizado com o máximo de segurança.
Cada qual é livre para fazer o que bem entende - e isso não é ofensa. Não me submeteria a um procedimento cirúrgico e pediria aos meus que não fizessem. Mas se for necessário, ou se for grande a vontade de corrigir aquele defeito que tanto incomoda, sigam as dicas do Dr. Carlos Meyer, converse abertamente com seu médico e se cerque de todos os cuidados possíveis.

E lembre-se: o bom cirurgião plástico não é aquele que faz tudo o que desejado pelo paciente, sem questionamentos ou alertas. O bom cirurgião é aquele que opera os desejos do paciente, mas também tem coragem de dizer "não" quando necessário!

terça-feira, 23 de março de 2010

Palavra do Dia n.º 25

O prêmio de palavra do dia, pelo mistério, vai para...

Ignispício (do latim ignispicium, ii) s.m. Suposta arte de adivinhar por meio do fogo - também chamada de acrimancia ou piromancia.

Eficiência Na Agressão Verbal

Ela - Seu Babaca Escroto, Animal Filho Da Puta, Ladrão, Salafrário,Viado, Viciado, Preguiçoso, Vagabundo, Corrupto, Pão Duro, Mau-Caráter, Sanguessuga, Imbecil, Cachaceiro, Mulherengo, Chifrudo Ordinário, Idiota, Bêbado, Burro, Inútil, Corno manso Que Não Serve Pra Porra Nenhuma, Sua Maldita Desgraça Imprestável Do Inferno.

Ele - Gorda!

sexta-feira, 19 de março de 2010

O Corvo, o Camelo e suas manias


Ontem assisti, acho que pela nona vez, "A felicidade não se compra" (It’s a wonderful life, 1946), de Frank Capra, com James Stewart e Donna Reed.

A mania de Capra, evidente em muitas cenas deste filme, é Jimmy, o Corvo, o pássaro em cima da mesa de Thomas Mitchell (o tio William Bailey) e que apareceu em todos os filmes do diretor desde "Do Mundo Nada se Leva" (You Can't Take It With You, 1938).

Outro diretor de quem gosto, e que usou e não abusou de suas manias, foi Hitchcock. Ele adorava aparecer em seus filmes, prática conhecida como cameo (ou camelo, em português). Geralmente eram breves aparições em situações comuns, sem diálogos ou muita interação, quase sempre no início dos filmes para não desviar o público do enredo principal.

Segue a lista (fonte - wikipédia):

Rear Window (br. Janela Indiscreta) – aparece dentro do apartamento do pianista; Psycho (br. Psicose) – passa a frente do escritório de Marion trabalho com chapéu de cowboy; Torn Courtain (br. Cortina Rasgada) – aparece logo aos oito minutos segurando um bebê no hall do hotel em que os protagonistas se hospedam; Frenzy (br. Frenesi) – aparece no início do filme, no meio da multidão que está às margens do rio quando um corpo da vítima aparece boiando; Suspicion (br. Suspeita) – aparece enviando uma carta no posto dos correios da cidade; Shadow of a Doubt (br. A Sombra de uma Dúvida) – aparece num trem, jogando cartas com um homem e uma mulher; Spellbound (br. Quando Fala o Coração) – sai do elevador do Empire Hotel carregando uma maleta de violino e fumando um cigarro; Blackmail (br. Chantagem e Confissão) – aparece em cena como um passageiro no metrô que é importunado por um garoto; Family Plot (br. Intriga em Família) – aparece o seu perfil por trás do vidro de uma porta como se estivesse a falar para outra pessoa e a gesticular; Dial M for Murder (br. Disque M Para Matar) – aparece no canto inferior esquerdo de uma fotografia pendurada na parede da sala; The birds (br. Os Pássaros) – aparece passeando pela calçada do lado de fora da loja de animais;
Lifeboat (br. Um Barco e Nove Destinos) – inicialmente, o diretor teve a ideia de aparecer como um corpo boiando próximo ao barco. Porém, entusiasmado com seu sucesso na tentativa de perder peso, Hitchcock decidiu aparecer posando para fotos "Antes & Depois" a respeito de um remédio para emagrecimento chamado "Reduco", mostrado num jornal durante o filme;
Rope (br. Festim Diabólico) – aparece duas vezes. Logo no início, aparece atravessando a rua. Mais tarde, uma caricatura de Hitchcock aparece num neon que reflete na janela do apartamento dos assassinos, em Nova York. Esta é uma referência à aparição feita em Lifeboat, onde se lê "Reduco", como na aparição feita quatro anos antes; Notorius (br. Interlúdio) – aparece após aproximadamente uma hora de filme em uma festa realizada na mansão de Alexander Sebastian; Vertigo (br. Um Corpo Que Cai) – aparece aos exatos onze minutos de filme, caminhando com um terno em frente ao estaleiro de Gavin Elster; Strangers in a Train (br. Pacto Sinistro) – aparece aos 5 minutos de filme, embarcando no trem com um contrabaixo;
Foreign Correspondent (br. Correspondente Estrangeiro) – aparece aos 12 minutos de filme, lendo um jornal e usando um chapéu; Rebecca (br. Rebecca, A Mulher Inesquecível) – aparece aos 126 minutos de filme, na rua, perto de uma cabine telefônica; The Lady Vanishes (br. A Dama Oculta) – aparece quase ao final da Victoria Station, fumando um cigarro; North by northwest (br. Intriga Internacional) – aparece logo no começo do filme correndo para pegar o ônibus; Topazio (br.Topázio) – aparece na estação de trem, numa cadeira de rodas, depois se levanta para cumprimentar um homem.