terça-feira, 30 de março de 2010

Anos depois...

A afirmação que me chamou atenção foi: "Continuo preso. Fui uma espécie de exemplo de justiça superexposto pela mídia, em um país repleto de impunidade. A verdade é que fiz bobagens, mas sou inofensivo, e por isso as pessoas não têm medo de me agredir na rua. Já chegaram a me cuspir no rosto, em um shopping. Se eu fosse um bandido de verdade, um Marcola, você acha que alguém gritaria 'Assassino!' para mim?" A bobagem foi o assassinato da atriz Daniella Perez, em 28 de dezembro de 1992, com 18 golpes de tesoura (quatro perfurações no pescoço, oito no peito e mais seis que atingiram pulmões e outras regiões).
Notícia do crime
O assassino confesso foi Guilherme de Pádua, colega de elenco da vítima na novela "De Corpo e Alma" (TV Globo, 1992), juntamente com sua mulher, Paula Thomaz. Segundo o homicida, Paula estaria com ciúmes de Daniella e, para provar que não existia um caso com sua colega de elenco, Guilherme a teria atraído para conversar em um matagal onde teve início uma grande confusão que resultou na morte que chocou o país.
Paula Thomaz e Guilherme de Pádua
No dia seguinte, Guilherme foi um dos primeiros a comparecer no velório da colega de novela, condolências ofertadas ao viuvo, Raul Gazolla, também ator, e à mãe da vítima, a novelista Glória Perez. Descoberto o crime por meio de testemunha que anotou a placa do carro utilizado no crime, Guilherme foi julgado e condenado por homicídio duplamente qualificado, com motivo torpe e impossibilidade de defesa da vítima, mesma pena de Paula Thomaz. Marido e mulher cumpriram apenas seis dos 19 anos a que foram condenados, o que provocou, inclusive, mudança na legislação penal brasileira.
A mãe, Glória Perez, e o viuvo, Raul Gazolla
Livre há quase 11 anos, Guilherme voltou para a cidade natal, Belo Horizonte, virou evangélico e casou. À época da reportagem que serve de base para esse texto (15/10/2006), Guilherme trabalhava para a sua igreja, tinha vergonha de revelar o quanto ganhava e se dizia eterno perseguido, a bobagem que lhe marcou tal qual boi em rebanho de eterna penitência. A nova mulher, Paula Maia, 22 anos, contava não saber, no início, se conseguiria suportar o fardo de se relacionar com um famigerado, no pior sentido da fama. Suportou e casou, festa para 300 convidados, e afirmava: "Hoje vejo que não tinha homem melhor para me casar.Tenho vontade de pegá-lo no colo, protegê-lo, é o meu bebezão." Mas casar foi prova de resistência, relatava Guilherme: "Você acredita que teve uma enquete na TV para saber se eu tinha o direito de me casar?" No final, o repórter Paulo Sampaio pergunta: Você se considera um assassino? A resposta: "Andei fora do caminho de Deus. Na nossa igreja não existe pecadinho e pecadão. Todos estão perdoados, a partir do momento do batismo, mas perdoados por Deus. Na rua, pode-se continuar a pagar..."
Daniella Perez - 11/08/1970 - 28/12/1992

7 comentários:

Yúdice Andrade disse...

Com estas tuas postagens, vou acabar virando teu freguês. Já vai para o Arbítrio.

Tanto disse...

Se puderem, complementem a leitura aqui: http://yudicerandol.blogspot.com/2010/03/nos-primordios-da-obsessao-midiatica.html

Anônimo disse...

pq esse doido não morreu na cadeia? Ela tá morta e o cara curtindo a cvida

Anônimo disse...

O que eu faria se ele estivesse por perto: eu me afastaria.

Mas daí a ofendê-lo, acho que isso não cabe a ninguém. Ele me chocou, não acreditei. Eu tinha 11 anos quando tudo aconteceu.

Acho que ele ainda está pagando pelo que fez: Causa e efeito.

É inevitável que lembremos dele com mágoa no coração, mas não temos o direito condená-lo e julgá-lo.

Ninguém pode ser rotulado por um erro que cometeu no passado.

Jane M disse...

Eu acho que esses crimes são tão absurdos, tão cruéis, tão inexplicáveis, que não há condenação que chegue.
Por isso mesmo, falar em 9 anos ou em 15 anos, ao meu ver, é quase que a mesma coisa.
Por ex, no caso da Jatobá (caso dos Nardoni) quando ela voltar pra casa o filho que ela deixou com 1 ano já será um rapazinho de 15 (ou coisa assim, por conta da redução da pena que foi de 21 anos e poderá ser diminuída... não sei bem). De toda forma, a vida dela e dos filhos já terá sido suficientemente destroçada e não são 5 anos a mais o a menos na cadeia que mudará isso.
Não sei se me fiz entender, mas acho dificílimo encontrar um meio termo, onde se tenha o sentimento de JUSTIÇA feita, porque a reparação de crimes dessa natureza é absolutamente impossível e nada, nunca mais, vai conseguir mudar o coração de quem mais sofre (pais, mães, filhos sobreviventes). O coração de quem perdeu um amor vai ser sempre um coração ferido de morte, um coração que existe no extremo da dor.
A Glória Peres falou no Fantástico que ela sente que a justiça foi feita, e a mãe da Isabela que agora que a vida dela começará de verdade, o que eu realmente desejo pra ela, porque a dor dessas mães nunca terá fim.

Eu não acho que os assassinos devam ser privados de nada além do que a justiça os condenou, porque nada vai mudar. Nesse caso TUDO é muito pouco. Nem que alguem os matasse como condenação, o crime estaria devidamente pago.

Feita a Justiça os que perderam seus filhos ainda têm que ter força pra recomeçar e continuar a viver.

Bjo

Tanto disse...

Eu não sei o que faria, mas acho que seguiria as atitudes do anônimo das 11:41 - me afastaria, mas sem condenar ou malhar o judas. Só ficaria longe mesmo, sem nenhum interesse por contato ou me tornar amigo.

Anônimo das 11:21, acho que entendo teu ponto de vista, da revolta. Mas não sei se olho por olho, dente por dente, resolvem.

Jane - Acho que entendi tua colocação... Para os que têm filhos, imaginar a perda é impossível... Assim como deve ser impossível continuar a viver. Mas todos vivem, os que perdem filhos, o que não significa dizer que dor acaba.

Anônimo disse...

Se isso tivesse acontecido no EUA, esse cara tinha sido torrado na cadeira elétrica ou prisão perpétua...