sábado, 31 de julho de 2010

Disk-Silêncio - Diz que serviço

Por volta de 16 horas de hoje (sábado) voltei para casa. 
Logo da frente do prédio pude escutar a festança que acontecia no quarto ou quinto andar. Neste ponto, acho importante lembrar que estou parcialmente surdo por conta do episódio da cera - mas mesmo assim escutei o grande barulho que se fazia. 
Pela distância não pude precisar o quão alto era o som, medição que só pude fazer do hall do elevador. Conclusão: estava realmente alto. Quando cheguei no meu andar, o sexto, o barulho era insuportável (e mais uma vez, não custa lembrar, estou parcialmente surdo). 
Tratei de procurar o telefone do Disk-Silêncio - serviço oferecido à população pela Delegacia do Meio Ambiente, DEMA, da Polícia Civil do Estado do Pará -, liguei e fui atendido pelo investigador Kleber. Solícito, me disse que logo passaria no prédio e resolveria a situação.
Eram 16:53.
Nenhum carro da polícia apareceu por aqui desde então. 
Por volta de 18:58, duas horas depois do primeiro telefonema, fiz nova ligação.
Desta vez atendeu o investigador Cláudio. Disse-me não saber nada da primeira reclamação, que o investigador Kleber não havia lhe passado nada, mas pegou os dados novamente e disse estar bem perto de casa, que logo viria. Disse também que verificaria a situação e perguntou pela síndica. Respondi que, obviamente, a síndica não havia feito nada ou os vizinhos se recusavam a desligar o som, e que eles eram minha última esperança em busca do silêncio, os vizinhos que festejavam com urros e uivos (isso mesmo, uivos!).
A viatura da DEMA chegou por volta de 19:02. Estacionou na frente do prédio e desceu um senhor que pressuponho ser o tal investigador Cláudio. Chamou o porteiro e conversou com ele por exatos 40 segundos. Foi justo tempo de o motorista da viatura fazer a volta na rua. Feita a manobra,  papo batido em pouco menos de um minuto, o investigador entrou na viatura e partiu.
São 20:45 e a situação é a mesma - som altíssimo, músicas estranhas, gritos raivosos, urros e uivos; palavrões e muita baderna. 
Um pouco antes de decidir escrever este texto, os tais vizinhos ligaram um karaoke e cantaram, seguidas vezes, a música "Poeira" da Ivete Sangalo. Devem ter cantado, no mínimo, umas oito vezes.
Não sei qual a verificação o investigador fez, nem sei o que conversou com o porteiro. Só sei que mais vale fazer coisa errada, fazer barulho e perturbar a vida dos outros, pois estes, pelo menos, não são incomodados.
E quem se incomoda com o barulho, eu ainda com o ouvido tampado a amenizar a baderna, que procure um canto quieto longe daqui. Eles ganharam, invadiram a nossa praia, e os incomodados que se mudem, não é?

Insônia

Invejo a capacidade da Tainá de deitar e dormir como se não houvesse amanhã. Ela encosta e dorme. Ponto. Já eu, sobrevivo pelos cantos tal qual zumbi, me arrastando tal qual preso atado à corrente e à bola de ferro. Desgraça.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Abaetetuba n.º 5

Acho que é a última série de fotos de Abaetetuba - pelo menos desta ida. Agora são as Vistas




quinta-feira, 29 de julho de 2010

Utilidade Pública

Com minha inesperada e temporária surdez, acabei virando utilidade pública. A jornalista Franssinete Florenzano, no afã de mostrar a seus leitores os malefícios do cotonete mal utilizado, postou uma nota no seu blog sobre meu curioso caso. Já pensei no título para o futuro livro: Sobre Como Não Usar um Cotonete, ou A Incrível História da Estupidez Humana. Inclusive, já me ligaram de Hollywood para saber sobre a possibilidade de adaptação para um filme. Os boatos dão conta de que posso ser representado por George Clooney, Jude Law ou Johnny Depp.

Reflexões de fim de verão

Algumas propostas e idéias deste verão:
  1. Acho que foi o Anderson Araujo que fez a seguinte proposta: aproveitar enquanto os veranistas estão fora, nos finais de semana de julho, e mudar Belém de lugar. Assim, quando eles voltassem, só encontrariam o buraco do que foi, um dia, a cidade. Eles ficam com o buraco e nós, felizes, ficamos com a cidade vazia e tranqüila desses fáceis sábados e domingos de julho.
  2. A próxima sugestão, juro não lembrar quem fez. É mais ou menos assim: As praias estão cheias de gente bronzeada, as ruas lotadas e a música pode ser escutada de qualquer canto. A badalação não pára e a paquera rola solta. As festas não têm hora para começar e terminar, carros e motos a lotar todas as ruas. Resumo: aproveite e mantenha distância. Fique em Belém.
  3. Também não sei quem foi o autor deste comentário: foi resolvido o problema de trânsito de Belém! – e de uma forma bem simples – fica definida a mudança compulsória de residência dos motoristas de final de semana. Ou seja: foi para Salinas? Então não volta mais para Belém e fica em Salinas de vez; e se a opção foi Mosqueiro, fica em Mosqueiro e não volta mais para a cidade. E nunca mais teremos problema com o trânsito por essas bandas.
Mas deixando de lado as brincadeiras, a constatação é simples: a cidade tem muito carro para pouca rua. E como o transporte público é ruim, uma frota sucateada e velha que massacra qualquer um sob o sol inclemente de sempre, todos querem ter um carro.
Olhem ao redor: o que mais se vê pelas avenidas e ruas da cidade são veículos com uma só pessoa, o conforto das janelas fechadas e do ar condicionado no máximo, música personalizada e quase completo distanciamento da realidade fora da janela.
E quem não tem dinheiro para comprar carro compra moto, o parcelamento a perder de vista em módicas prestações, a confusão que se torna maior com os riscos de acidente que se multiplicam nas ultrapassagens malucas por entre os retrovisores.
Com tudo isso aumentam os engarrafamentos e a confusão, o transporte público fica pior e a cidade pára por coisa qualquer. O mais engraçado é ver o belenenses reclamando do trânsito maluco, das filas intermináveis e da meia hora qualquer para ir de um ponto ao outro – todos reclamam e ninguém assume que é um pouco pai da criança malina.
Obviamente não poderemos mudar a cidade de lugar ou obrigar os motoristas que fiquem onde estão. Da mesma forma, não podemos fazer crer que o problema não existe, os veranistas que estão distante mas que, belo dia, voltarão. Não, não. Não podemos!
E o que nos resta então? Lamentar a cidade que temos e que nunca teve qualquer espécie de planejamento, que simplesmente cresceu de forma caótica e desordenada. Lamentar a cidade que, aparentemente, nunca vai ter resolvido seu problema de transporte público. Lamentar a crescente quantidade de carros e motos nas ruas, ano após ano. Lamentar, lamentar, lamentar...
Resta também esperar o próximo mês de julho ou feriado qualquer, a breve e alentadora visão do que Belém poderia ser.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Ensaio sobre a surdez

Belém, 27 de julho de 2010.

Hoje acordei completamente surdo.
Vou-lhes contar como foi:
Bastou levantar a cabeça da cama e logo senti que algo estava errado. Ainda sonolento, me dirigi ao banheiro sem saber ao certo o que me afligia. Somente no banho notei, assustado, que um ouvido, o esquerdo, funcionava bem enquanto o outro, o direito (obvio!), estava tampado.
A sensação parecia essa: enquanto eu dormia, alguém havia colocado uma pequena bola de massa ou alguma espécie de gelatina que, agora, me dava a nítida impressão dos horrores da surdez.
Obvio que ninguém havia botado nada no meu ouvido. E nem poderia ser água, eu que mal havia entrado no banho ainda. Mesmo assim, ainda de toalha, pedi à Tainá que colocasse um pouco de álcool no lado tampado – lembrança amarga das dores da infância junto à piscina de meu avô. Fiquei deitado na cama por alguns segundo esperando que o álcool surtisse efeito, mas nada aconteceu.
No carro, indo deixar a Tainá, a sensação de tampamento crescia e me importunava muito. Algumas vezes cheguei mesmo a achar que se tratava de uma mosca, inseto qualquer que poderia ter feito ninho no meu ouvido durante a noite – aqui, faço uma observação: uma vez, eu pequenino, uma borboleta maluca voando de forma alucinada acabou por se chocar com minha orelha e eu, na ânsia de tirá-la, acabei por metê-la cada vez mais para dentro. O resultado: eu e meus pais, de noitinha, no Pronto Socorro da 14 fazendo lavagem na minha orelha. Moral: é horrível ter uma borboleta dentro do ouvido!
Ao chegar ao trabalho percebi que nada havia melhorado: a sensação de tampamento era incômoda e eu começava a sentir uma leve pressão no aparelho auditivo. Nessa hora eu vi meu futuro de forma clara – eu, novo ainda, completamente surdo. Me desesperei com a possibilidade aterrorizante de nunca mais poder escutar as músicas que gosto – ou mesmo as que não gosto – a voz dos que amo ou os sons que me agradam.
Liguei o computador e busquei o site da Unimed. Um dia antes meu irmão havia comentado sobre um excelente otorrino, amigo seu, que havia acabado de chegar de São Paulo e era extremamente preparado. Destino! Fui direto procurar o médico Breno Simões que descobri atender na Domingos Marreiro. Liguei: “sim, senhor! O doutor Breno está na clínica agora e poderá lhe atender” Pedi licença aos colegas e fui correndo ao encontro daquele que me daria a notícia derradeira: “é, meu amigo! Você está irremediavelmente surdo!” Enquanto eu dirigia imaginava as piores coisas, as doenças mais estranhas e devastadoras que certamente me atacavam... Pensei mesmo em como faria para me re-adaptar à nova condição... Desespero, teu nome era Fernando, eu que dirigia segurando as lágrimas do medo e angustia.
Já no consultório, após o papo educado e introdutório de sempre, sentei no local indicado e o Dr. Breno começou a me investigar. Eu não parava de falar sobre meu medo, verdadeiro pavor, a surdez da qual já não duvidava mais. Só parei quando o médico, em um sorriso estrondoso e alegre – que não posso deixar de adjetivar como tranqüilizador também – me olhou com olhos sinceros e disse: “Fernando, meu amigo! Você está surdo mesmo, mas nada que não possamos resolver. Basta retirar essa enorme rolha de cera que você, não sei como, conseguiu enfiar ouvido adentro!
Cera! Simples cera de ouvido ou ceroto, aquele troço estranho que sai das orelhas e que, em tese, as protege. Sim! Consegui entupir meu ouvido com cera de tal forma que, agora, me encontro praticamente e temporariamente surdo.
É tanta cera que o médico pediu para usar um remédio – que deve amolecê-la – para somente depois fazer uma lavagem “ouvidal” (inventei uma palavra).
Conclusões, conclusões: a Tainá, com suas coisas de mulher, resolveu colocar no banheiro um pote cheio de lindos e brancos cotonetes. E eu, que nunca os usei na vida – mas que sempre mantive meu ouvido limpinho, ok? – passei a usá-los. Obviamente, como ficou provado, EU NÃO SEI USAR COTONETES. Tanto é que me entupi por inteiro em mais puro e “escrementoso” ceroto (opa! Mais uma palavra)!
Então estou usando Cerumin, rima boa para curumin, remédio da Alcon que nada mais é do que um amolecedor de ceras e afins. O processo é um pouco penoso e bastante nojento, pelo que não o descreverei aqui (mas postarei fotos, ho ho ho).
E dentro de uma semana, quando minhas ceras estiverem moles, farei a devida limpeza e poderei, novamente, escutar os belos sons da natureza que agora me são privados.
Para terminar, algumas palavras: ouvi novamente a célebre frase – só se limpa o ouvido com o cotovelo. Nada de meter coisas ali dentro, muito menos cotonete. Limpeza? Faça com lenços umidecidos ou com uma toalha própria, tudo por fora, nada por dentro, sob pena de viver os mesmos horrores deste que vos relata os terríveis fatos.
Depois conto mais sobre minha angustiante surdez!

terça-feira, 27 de julho de 2010

Abaetetuba n.º 4

Um série de fotos de Abaetetuba, fotos diversas: pés, fé e meninos - o primeiro no porto, o segundo na jaula.




Enquete: Eleições/2010

Em quem vocês votarão? No Serra, na Dilma ou em um terceiro candidato? Já repararam que ambos são a cara do Mr. Bean?

Desculpe por esse tipo de post: tenho escutado muito a "Banda os Broder, a maior referência em Melody".

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Melhor que seja Fiuk

Antes de criticar a escolha do pais pelo nome estranho, pensem bem: será que o Fiuk faria o mesmo sucesso se o nome escolhido fosse José Maria (nada contra Josés Maria, ok?).

Ponderação

Certas coisas têm uma dinâmica bem engraçada. Um dia você acorda e percebe que algo tem de ser feito com a máxima urgência, verdadeira questão de vida ou morte. E com a pressa dos necessitados você executa a tarefa mas acaba ficando pelo meio do caminho por uma razão qualquer. Então você decide que a sua necessidade pode ficar para depois, para um momento mais oportuno, e segue com sua vida. Mas mesmo seguindo em frente você não pára de pensar naquilo, a necessidade de fazer que fica te martelando, te consumindo em mil planos de execução. E depois de dois, três dias, quando você senta para finalmente acabar o que antes era urgente, acaba se questionando - "será que isso é mesmo urgente? Será que isso deve ser feito?" A conclusão que você chega é: não há mais urgência e nem necessidade - e você agradece ao tempo por ele existir e acabar por te fazer uma pessoa mais ponderada.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Evolução do ensino de matemática

Segundo o blog Biométrio, foi mais ou menos assim a evolução do ensino da matemática desde 1950 - evolução mostrada por meio do mesmo problema ao longo dos anos:
Ensino de matemática em 1950:

Um lenhador vende um carro de lenha por R$100,00. O custo de produção é igual a 4/5 do preço de venda. Qual é o lucro?


Ensino de matemática em 1970:


Um lenhador vende um carro de lenha por R$100,00. O custo de produção é igual a 4/5 do preço de venda ou R$80,00. Qual é o lucro?


Ensino de matemática em 1980:


Um lenhador vende um carro de lenha por R$100,00. O custo de  produção é R$80,00. Qual é o lucro?


Ensino de matemática em 1990:


Um lenhador vende um carro de lenha por R$100,00. O custo de produção é R$80,00. Escolha a resposta certa, que indica o lucro:

( )R$ 20,00 ( )R$40,00 ( )R$60,00 ( )R$80,00 ( )R$100,00


Ensino de matemática em 2000:


Um lenhador vende um carro de lenha por R$100,00. O custo de produção é R$80,00. O lucro é de R$20,00.

Está certo?
( )SIM ( ) NÃO


Ensino de matemática em 2009:


Um lenhador vende um carro de lenha por R$100,00. O custo de produçãoé R$80,00. Se você souber ler coloque um X no R$20,00.

( )R$20,00 ( )R$40,00 ( )R$60,00 ( )R$80,00 ( )R$100,00



quarta-feira, 21 de julho de 2010

Uma foto n.º 9

Quem foi esse inocente, mal nascido e logo falecido, que de tão rápida passagem nem recebeu nome? A família festejou e lamentou, tudo junto, sentimentos distantes e tão próximos encerrados em triste jazigo no Cemitério de Santa Izabel. Hoje há a pedra fria perdida no mar de tumbas, oceano de mármore branco a perder de vista. E antes? Talvez a espera dos pais, ansiosos por mais um filho que viria; ou os irmãos planejando brincadeiras mil com aquele que seria seu brinquedo. Por fim, tudo ficou resumido no enterrar, quem sabe em pequeno caixão branco, final de tarde chuvosa de Belém. Restou a todos a saudade de quem nem conheciam, certamente amado e esperado, a vida que seguiu e manteve seu rumo. Os pais podem ainda estar vivos pois não faz muito tempo. Os irmãos devem ter tido seus filhos e se lembram dele, o inocente inominado, quando indagados sobre quantos eles foram.

Os cemitério são verdadeiros livros a céu aberto, a vida e os costumes das sociedades expostos da forma mais crua e dolorosa. Mas também pode haver beleza reservada àqueles que buscam conhecimento - basta saber olha...
A foto é do Wagner Mello e foi tirada no dia 05 de julho de 2010, no cemitério de Santa Izabel, Belém.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Mulher condenada à morte por lapidação

Sakineh Mohammadi Ashtiani, de 43 anos, mãe de dois filhos, está no corredor da morte na prisão de Tabriz, no noroeste do Irã, e ainda corre risco de ser executada. Por volta de 7 de julho, em consequência de um clamor internacional, os oficiais de Tabriz pediram ao chefe do judiciário iraniano que concordasse em converter a pena de morte por lapidação em execução por enforcamento
Sakineh Mohammadi Ashtiani foi condenada em maio de 2006 por manter “relação ilícita” com dois homens e recebeu 99 chicotadas.  Apesar disso, foi também condenada por “adultério enquanto casada”, o que ela nega, e condenada à morte por lapidação [apedrejamento]. 
Depois dos protestos internacionais das últimas semanas, a embaixada iraniana em Londres declarou no dia 8 de julho que “Sakineh Mohammadi Ashtiani não seria executada por lapidação”, mas não fez menção de outros possíveis meios de execução. No dia 10 de julho, o chefe do Alto Comissariado dos Direitos Humanos no Irã disse que seu caso seria revisto, embora afirmasse que a lei iraniana prevê execução por lapidação. Entretanto, no dia 11 de julho, o chefe do judiciário provincial no Azerbaijão do Leste, Malek Ezhder Sharifi, disse que o apedrejamento ainda estava em vigor e seria implementado a qualquer hora por decisão do chefe do judiciário, aiatolá Sadegh Larijani Malek. 
Ezhder Sharifi disse também que Sakineh Mohammadi Ashtiani foi condenada à morte em conexão com o assassinato do marido, mas isso foi questionado por um dos advogados dela, que afirma que ela tinha sido indultada pela família do morto, mas foi condenada a 10 anos de prisão como “cúmplice” do crime. 
Em 14 de julho, Sajjad Qaderzadeh, filho de Sakineh Mohammadi Ashtiani, foi chamado à prisão central de Tabriz. Acredita-se que foi interrogado por oficiais do Ministério da Inteligência que presumivelmente o advertiram a não dar mais entrevistas sobre o caso da mãe.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Abaetetuba n.º 2

O rastro do barco é uma das coisas mais bonitas de se ver. Na verdade, barco todo é coisa bonita, ele boiando na água, indo, nem sei como. Essa série de Abaetetuba será: Barcos e seus rastros (com uma bandeira rota).




domingo, 18 de julho de 2010

Domingo de eleição no Brasil

Para quem não sabe, ontem foi dia de eleição em alguns municípios brasileiros. A causa foi a Justiça Eleitoral ter cassado o mandato de prefeitos e respectivos vice-prefeitos eleitos em 2008. Foram cerca de 130 mil eleitores que voltaram às urnas nos municípios de Apiacá, no Espírito Santo; Araras, em São Paulo; Riachão do Dantas, em Sergipe; São Francisco do Maranhão, no Maranhão; Isaías Coelho e Nossa Senhora dos Remédios, no Piauí.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Mulheres de Belém - Maria Odete

Maria Odete tem 62 anos e pede esmola na escadaria da Basílica desde os 60. Faça sol ou chuva, toda tarde a mulher se senta na porta da igreja e, tricotando, espera que a ajudem com troco qualquer, dinheiro para sustentar a neta de 14 anos, filha de sua filha e sua única companheira.

A mãe sumiu no mundo e deixou para a avó a responsabilidade de criar a pequena, dever cumprido com sacrifício do orgulho, sentimento incompatível com a condição que ela assumiu: de vez em quando acontece de me mandarem trabalhar, de me chamarem de vagabunda e preguiçosa. Eu não ligo, finjo que não é comigo. Sou conformada com a minha condição. Afinal, quem empregaria uma mulher da minha idade, doente e sem estudo? Tentei durante meses e descobri: ninguém!

Ela não tem noção de quanto recebe em um mês. Sabe somente que é dinheiro suficiente para mantê-las e para suprir as necessidades mais prementes da casa humilde no bairro da Pedreira.

Antes de pedir esmola Maria Odete foi empregada doméstica. Durante anos, desde que se entende por gente, trabalhou em casa de família. Mas então a idade chegou e, com ela, o cansaço para as tarefas mais banais e um problema crônico de estômago que lhe aflige diariamente. Um dia foi mandada embora e nunca mais teve outra oportunidade, as dezenas de portas batidas que corresponderam a dezenas de sonoros nãos. E com a neta para criar, sem ter outra opção, resolveu sentar nas escadas da Basílica e de lá, moeda em moeda, vem sobrevivendo.


As melhores épocas para pedir esmola, segundo ela, são o Natal, a Páscoa e o Círio. Motivados pelo espírito coletivo de bondade, os fieis oferecem às pedintes que ficam diante da Basílica cestas de alimentos, roupas e sapatos.

E os mais generosos, segundo ela, são aqueles que freqüentam a missa diariamente, gente que a conhece de sempre estar lá e sabe que não é pessoa ruim. Alguns chegam a oferecer, mensalmente, de cinqüenta a cem reais, espécie de dízimo sem atravessadores.

Generosa mesmo é Maria Odete, mulher que ofereceu seu orgulho à humilhação diária de pedir esmola na escadaria da Basílica de Nossa Senhora de Nazaré, chuva ou sol feito, mulher que engole a seco ofensas e descaso diante do dever de criar a neta.

Uma foto n.º 8

Ainda no quintal de minha avó.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Abaetetuba n.º 1

Uma viagem curta, um dia de trabalho em Abaetetuba metido no meio da semana e muitas fotos. Esse pode ser o resumo do meu dia 11 de julho de 2010, o acordar cedo nem sentido diante da beleza de tudo que via. O mais engraçado é que Abaetetuba é muito perto de Belém, cerca de 1 hora e 30 minutos entre barco e ônibus para ir, mesma coisa para voltar, e eu nem sabia. Achava, de sempre escutar falar, que a cidade ficava bem mais distante, a lonjura que impossibilitaria uma idinha qualquer só para ver e voltar. Exatamente como fiz.
Vou dividir algumas fotos em séries temáticas - acho que fica bem mais organizado e fácil de ver. A primeira será com os viajantes que, olho na janela, sonham e se deliciam com a paisagem que passa ou com a cidade que chega, todos absortos. Então vamos lá - Os viajantes e seus olhares:






 

Palavra do Dia n.º 32

Diante do que te oprime, do que te amarra as mãos e te desnorteia. Diante do que te mostra, dia após dia, a impossibilidade de fazer diferente. Diante do que se revela, sempre, incapacidade de mudar. Diante de tudo isso, não tenho outra opção e sou obrigado a escolher a seguinte palavra do dia:
          Inépcia
          s.f.
          1. Falta de inteligência.
          2. Tolicie; absurdo.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Direto de Portugal III


Mais uma da minha correspondente em Lisboa:

Fernando
Como podes ver, se por um lado os funcionários do Café "A Brasileira", do Chiado, reclamam dos maltratos, por outro lado, outros se preocupam com os passarinhos e com os animais que na rua podem não ter onde matar a sede. Na placa sobre a fonte está escrito, "O homem deve ser piedoso e humano para com os animais", o "piedoso" está um pouco apagado. É uma extensão daquela frase, "amar o próximo como a si mesmo". 
Beijo 
Maria Regina

A gente se entende bem

 Ela entende o lado dele.
 Ele entende o lado dela.
A gente se entende.
Com fotos do Wagner Mello.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Direto de Portugal II

Da minha correspondente em Portugal, Maria Regina Maneschy:

Os garçons e funcionários do Café A Brasileira, do Chiado, o café onde Fernando Pessoa está permanentemente sentado em sua estátua de bronze, protestando contra os maltratos e baixos salários, na manifestação de hoje da Central Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP).


E se fosse aqui no Brasil certamente seriam fregueses da Justiça do Trabalho no dia seguinte.

Auto conhecimento

Este não devia ser um blog fotográfico.
Não que um blog fotográfico, ou um blog que use muitas fotos, seja ruim.
Pelo contrário: adoro.
Quando comecei o Domisteco eu não tinha câmera.
Usava os bons préstimos do bom amigo Wagner Mello ou uma cybershot rosa que minha mãe emprestava, e assim íamos ilustrando a casa.
Mas então veio minha Nikon Coolpix L100, uma semi profissional fantástica.
E foi quando o blog, que não iria ser fotográfico por absoluta falta de máquina de retratos, se viu cheio de fotos.
E hoje, claro, temos textos.
Mas também temos fotos.
E espero que estejam gostando.
Eu estou.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

terça-feira, 6 de julho de 2010

Abandono

A pedra foi cantada aqui, no dia 28/05/2010. Ontem, dia 05/07/2010, essa era a imagem do lindo cemitério da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, na travessa José Bonifácio, esquina com a rua dos Pariquis (em frente ao Santa Izabel).

Eu e o Wagner Mello flagramos e fotografamos a ocupação por volta de 17 horas. Pudemos contar quase oito pessoas que usavam as sepulturas como cama - sem contar a capela principal, linda, que era usada como centro recreativo e outras coisas mais. Infelizmente a capela se torna inacessível, assim como o cemitério inteiro, os elementos que aterrorizam qualquer um que ouse andar por aquelas paragens sem a devida segurança. Pena de quem não pode ver as obras de arte ali expostas, museu a céu aberto. Mas pena mesmo sinto de quem teve um dos seus ali enterrados, imensa miséria de não poder visitá-los na última morada.

p.s.: Não posso negar que nós dois, ao descer do carro e perceber a estranha movimentação, ficamos com medo e receosos, o Wagner com a sua câmera nas mãos a servir de perfeita isca aos bandidos, os dois prontos para correr a qualquer risco. Mas nada aconteceu e as fotos sempre valem o risco.


O tempo em Belém

Belém tem disso, um tempo maluco. Passamos o dia inteiro sob o pior calor possível e, do nada, o céu cai em nossas cabeças com chuva que pára tudo. Olhem a foto - de um lado do prédio em construção, céu azul lindo, sem nuvens. Do outro, um prédio somente a lhes separar, o cinza da chuva que pode tombar dentro em breve. É por essas e outras que adoro Belém.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Nossa praga pessoal

Logo que nos mudamos, fomos obrigados a travar uma guerra inglória com exército eficaz e silencioso, verdadeira praga que parecia estar por todos os cantos, escondida, pronta a se aproveitar de qualquer erro para obter mais um vitória: as formigas.

Tal qual guerrilheiros, elas apareciam aos montes por qualquer gotinha de leite esquecida, um bago de arroz indevidamente caído ou embalagem mal fechada. Foram capazes mesmo, as malditas, de furar um saco de presentes e a caixa de chocolates que tínhamos trazido de viagem para um amigo, sem falar de pacotes de miojo e chá, tudo muito rápido e a nos causar a mais completa perplexidade.

O pior de tudo é que moramos em prédio, no sexto e último andar, a lonjura de quintais ou lugares que podiam ser o habitat das pequenas, nós que nos sentíamos como dois cegos em meio àquela guerra.

Pensamos no extremo, fechar as portas e janelas, chamar empresa de dedetização e passar uns dias fora, medida cruel e devastadora tal qual Hiroshima e Nagasagui, ainda mais diante do derradeiro capítulo vivido: certa noite, após um delicioso jantar, Tainá decidiu que não lavaria a louça naquele momento, que deixaria o serviço para o dia seguinte, e se pôs a raspar pratos e panelas, encher de água com detergente tudo que pudesse atrai-las e tudo ficou empilhado na pia. Tainá foi dormir e eu fiquei, vendo filme ou lendo, não sei. Só sei que, quando fui dormir, ao passar pela pia, verdadeiro formigueiro tinha se instalado, elas que vinham de todos os lugares para comer algo qualquer, uma borda esquecida à esponja, tudo em enorme caos.

E assim me vi, duas da manhã, travando batalha com venenos e líquidos mil, formigas pretas – grandes e com um ferrão inclemente - e marrons – pequeninas e sem ferrão, mas sempre em maior quantidade. A batalha de limpeza e morte durou até quase três da manhã. E não sei bem o que fiz, nem se fiz algo, mas desde então as desgraçadas sumiram por completo.

Da mesma forma que apareceram elas sumiram, partida fervorosamente festejada, mesmo que não entendida. No prédio, que eu saiba, nada foi feito para por fim a pragas quaisquer, e a luta travada foi simples, igual aos outros dias.

A única diferença foi ter espirrado bastante veneno pelos lados do fogão, que fica em um nicho no balcão, coisa que não me lembro de ter feito antes. Mas isso, por si só, não seria capaz de acabar com a praga – o lugar é hermeticamente fechado e não teria como elas chegarem por lá. Da mesma forma, pela quantidade de bichos e pela continuidade, o nicho não apresenta espaço suficiente para que elas tivessem feito seu formigueiro por ali. Mais – dias antes, ao perceber a movimentação que vinha pelo lado do fogão, cheguei a tirá-lo todo e nada de estranho percebi.

O fato é que elas sumiram, exterminadas ou não, e já completamos uma semana livres. Fizemos até testes, aos poucos, copos sujos de suco ou embalagens abertas, já vazias, tudo devidamente largado, displicentemente, sobre o balcão.

Ontem foi a verificação suprema: depois do jantar, larguei a louça no estado que estava na pia, só uma rápida raspada dos pedaços sólidos. Fui ver filmes e, horas depois, nem uma mísera formiguinha passeava pelas peças sujas na pia. E se este não é um mistério capaz de abalar o mundo, podem ter certeza que abalou o meu e da Tainá de forma enorme, nós que agora, livres, ficamos diariamente encucados e nos questionando sobre o misterioso sumiço de nossas formigas, penetras em nossa vida.