quinta-feira, 25 de novembro de 2010

França Profunda


Sabrina tinha 23 anos quando seus pais resolveram usá-la como parte do pagamento por um carro usado. Ela foi estimada em 750 euros (cerca de dois mil reais) e assim a negociação foi concluída. Isso tudo no ano de 2003, na região de Seine-et-Marne, área central da França, em um acampamento miserável de trailers.
O casal Franck Franoux e Florence Carrasco, que aceitou Sabrina como pagamento, passou a utilizá-la para os mais variados fins: como escrava doméstica, Sabrina cuidava da casa e dos sete filhos de seus donos; como escrava sexual, ela servia às vontades dos dois e, eventualmente, era obrigada a se prostituir. Geralmente ela dormia ao relento, mesmo no rigoroso inverno francês, e se alimentava somente com as sobras da família. Por diversas vezes ela foi estuprada e torturada.
O calvário de Sabrina, que revela uma face quase esquecida de certos problemas, os crimes sexuais que parecem existir somente na cruel realidade de países subdesenvolvidos, durou de 2003 até final de 2006 – quando a mulher, gravemente doente, passou a representar um estorvo para seus donos.
Pesando pouco mais de 34 quilos, Sabrina foi largada diante de um hospital de Paris. Ela não tinha mais nenhum dente e seus cabelos estavam raspados. Orelhas e nariz, mutilados durante anos seguidos, foram reconstruídos após diversas cirurgias. Pelo corpo, além de hematomas e cicatrizes, inúmeras queimaduras decorrentes de tortura.
Após a descoberta da desgraça que ocorria em uma região próxima à elegante capital francesa, 14 pessoas foram presas e serão julgadas – dentre elas, os pais que venderam a filha. Se forem considerados culpados, os acusados poderão ser condenados a penas que variam entre dois e 15 anos de prisão (o julgamento está previsto para terminar em 17 de dezembro de 2010).
Enquanto isso Sabrina, hoje com 30 anos, busca ter uma vida normal – mesmo que a convivência com o pesadelo seja ainda muito próxima: “Em algumas noites eu tenho lembranças. Eu não durmo”, afirmou ela ao jornal Le Parisien.
Realmente, deve ser difícil dormir com tanto barulho a atormentar a vida, as marcas na alma que conseguem ser piores do que as marcas no corpo.
As informações são da BBC Brasil e da Elle francesa.

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