terça-feira, 26 de abril de 2011

Sinfonia na TransBrasiliana

Comecei me assustando com um ônibus moderníssimo, bem diferente dos veículos que geralmente fazem a rota Belém-Garrafão do Norte. Mas a felicidade pela viagem aparentemente mais confortável logo desapareceu quando várias telas se abriram do teto e, tal qual um avião, descobri que o ônibus novo estava equipado com um completo sistema de entretenimento. Levando em consideração o gosto musical quase massificado de motoristas e cobradores, certamente aquilo se revelaria uma desgraça, o que não demorei a comprovar.
A primeira obra audiovisual foi de um grupo chamado Limão com Mel, a gravação ao vivo do primeiro DVD deles: eram músicas que nunca ouvi, cantadas por pessoas que não sei quem são, tudo isso num local enorme, tal qual um estádio de futebol. Apesar do meu completo desconhecimento, parece que o grupo faz um sucesso danado. O ônibus inteiro começou a cantar músicas sobre amor, traição, paixão e Deus - e o cobrador, esperto, aproveitou para "manicar" uma menina novinha, com cara de colegial.
Depois colocaram um DVD do Belo, pedido exaltado da senhora que estava bem atrás de mim. O Belo eu já conheço (acho que todos conhecem), se não pela qualidade musical, pelas notícias das páginas policiais. De qualquer forma, surge novamente uma dúvida eterna - qual a razão de se chamar Belo um homem daqueles?
Por fim, como se não fosse o bastante após quase quatro horas na estrada, me arranjaram um DVD do Bonde do Forro. Nem vou fazer comentários sobre essa banda, misto de forro com sertanejo, uma das coisas mais toscas que já vi ou ouvi. Mas, novamente, o problema parecia ser só meu - todos conheciam as músicas e chamavam os cantores pelo nome, tal qual bons amigos. Realmente, aho que preciso me inteirar das coisas...
Já quase chegando em Garrafão, por sorte (Sangue de Jesus tem poder!!!), o aparelho de DVD travou e nada o fez funcionar novamente. A desgraça geral da nação TransBrasliana ficou estampada em lamentos e gemidos de dor, reclamações mil pelo fim da programação "maravilhosa". Mas o cobrador, sempre ele, logo descobriu uma solução: um dos vários CDs piratas que havia acabado de comprar. Juro que, nesta hora, gelei!!
O que poderia sair dali? Que outra pérola da Música Popular Brasileira poderia surgir daquele "case" preto? Para meu espanto, ele escolheu justaente um Cd do Ritchie, algo humanamente aceitável diante das escolhas anteriores. O problema foi ter repetido umas 10 vezes Transas, de modo que "quando se quer mais, gente diz 'bye-bye'" não sairá da minha cabeça pelas próximas horas.
Amanhã, na volta, colho outras observações para dividir com vocês. E me desejem sorte.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Dano moral?

Juiz dá bronca em homem que pretendia indenização por ser impedido de entrar em agência bancária
"O autor quer dinheiro fácil". Dessa forma começa o despacho da sentença do juiz de Direito Luiz Gustavo Giuntini de Rezende, da vara Especial Cível e Criminal do Fórum de Pedregulho/SP. O autor da ação foi impedido de entrar na agência bancária pela porta giratória, que travou por quatro vezes. Assim, pretendia ser indenizado pela instituição financeira por danos morais, sob a alegação de que foi lesado em sua moral, uma vez que passou por situação "de vexame e constrangimento".
Veja abaixo a íntegra da sentença.
434.01.2011.000327-2/000000-000 - nº ordem 60/2011 - Reparação de Danos (em geral) - - R.P.S. X BANCO DO BRASIL SA - Vistos. Roberto Pereira da Silva propôs ação de indenização por danos morais em face de Banco do Brasil S/A. O relatório é dispensado por lei. Decido. O pedido é improcedente. O autor quer dinheiro fácil. Foi impedido de entrar na agência bancária do requerido por conta do travamento da porta giratória que conta com detector de metais. Apenas por isto se disse lesado em sua moral, posto que colocado em situação "de vexame e constrangimento" (vide fls. 02). Em nenhum momento disse que foi ofendido, chamado de ladrão ou qualquer coisa que o valha. O que o ofendeu foi o simples fato de ter sido barrado - ainda que por quatro vezes - na porta giratória que visa dar segurança a todos os consumidores da agência bancária. Ora, o autor não tem condição de viver em sociedade. Está com a sensibilidade exagerada. Deveria se enclausurar em casa ou em uma redoma de vidro, posto que viver sem alguns aborrecimentos é algo impossível. Em um momento em que vemos que um jovem enlouquecido atira contra adolescentes em uma escola do Rio de Janeiro, matando mais de uma dezena deles no momento que freqüentavam as aulas (fato notório e ocorrido no dia 07/04/2011) é até constrangedor que o autor se sinta em situação de vexame por não ter conseguido entrar na agência bancária. Ao autor caberá olhar para o lado e aprender o que é um verdadeiro sofrimento, uma dor de verdade. E quanto ao dinheiro, que siga a velha e tradicional fórmula do trabalho para consegui-lo. Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTE o pedido. Sem custas e honorários advocatícios nesta fase. PRIC Pedregulho, 08 de abril de 2011. Luiz Gustavo Giuntini de Rezende Juiz de Direito VALOR DOPREPARO - R$ 324,00 + R$ 25,00 DE PORTE DE REMESSA E RETORNO DOS AUTOS. - ADV FLAVIO OLIMPIO DE AZEVEDO OAB/SP 34248 - ADV RENATO OLIMPIO SETTE DE AZEVEDO OAB/SP 180737 

terça-feira, 12 de abril de 2011

Sinceridade

Dentre todas as entrevistas ou relatos referentes ao ocorrido em Realengo, o do estudante Carlos Matheus Vilhena de Souza, de 13 anos, me chocou especialmente por razões diversas. Após ser atingido com dois tiros no braço, Carlos foi ao chão e permaneceu quieto, se fingindo de morto, como forma de escapar à desgraça que se abatia aos outros colegas. A entrevista ao Estado de São Paulo seguia seu curso 'normal', como outras, até que o menino nos dá uma demonstração incomum de sinceridade e realismo:

Estadão: Em qual sala você estava?
Carlos: Na sala da professora Patrícia. Ela se mandou na hora e deixou a gente sozinho.
Estadão: Você está chateado com a professora?
Carlos: Não. Foi uma reação normal. Ela saiu correndo. Se tivesse ficado, talvez também fosse atingida. É assim mesmo. Eu teria feito a mesma coisa. Não adianta ficar chateado.
Estadão: Você entendeu o que aconteceu?
Carlos: Nem tentei. Não tem nenhuma explicação.

A vocês as conclusões.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Para Benedito, Estrella

Benedito Nunes morou por muitos anos na rua da Estrella, no bairro do Marco, Belém, até que a Estrella foi renomeada e passou a ser Mariz e Barros, a necessidade "premente" de que fizesse alusão à Guerra do Paraguai (apesar de que Estrella também fazia, não é Lafayette?). 
E foi assim que, durante muitos tempo, Benedito Nunes começou verdadeira guerra contra a mudança, guerra bem ao seu estilo - educada, inteligente e sem qualquer tipo de agressão. A marca mais incisiva a mostrar contrariedade diante da mudança é a placa, ainda fixada no muro do filósofo, indicando sua vontade de que permanecesse Estrella. 
Depois que Benedito Nunes morreu, muitas idéias de homenagens surgiram (algumas bem inusitadas), e acho que nenhuma o deixaria mais feliz do que a proposta do vereador Carlos Augusto, do DEM, apresentada à Câmara Municipal de Belém em forma de projeto de lei: nada tão grandioso como uma movimentada avenida ou calorento aeroporto, a responsabilidade de carregar o nome do ilustre paraense. Somente a singela mudança pretendida durante anos - que Mariz e Barros voltasse a ser da Estrella.
Amanhã, dia 12 de abril de 2011, às 09 horas, a viúva do filósofo, Maria Sylvia Nunes, o secretário de cultura do Estado, Paulo Chaves, mais as amigas Lilia Chaves, Andrea Sanjad e Regina Maneschy, juntamente com o vereador Carlos Augusto, participarão de audiência com o presidente da Casa, Raimundo Castro, para manifestar irrestrito apoio ao projeto que, no entender de todos era a mais pura vontade de Benezinho.
O filósofo por Luis Braga.
Benedito ri.
Para mais informações sobre o projeto, recomendo que leiam aqui: Blog do Carlos Augusto.

Onde as crianças dormem

James Mollison viajou ao redor do mundo e decidiu criar uma série de fotografias mostrando os quartos infantis por onde passava. As fotografias foram depois compiladas em um livro intitulado Onde as crianças dormem. Cada par de fotografias é acompanhada por uma legenda estendida que conta a história da criança. As diferenças entre um e outro espaço do sono é impressionante.
Mollison nasceu no Quênia em 1973 e cresceu na Inglaterra. Depois de estudar arte e design na Universidade de Oxford Brookes, e cinema e fotografia em Newport School of Art and Design, ele se mudou para a Itália para trabalhar no laboratório criativo da fábrica da Benetton.
O projeto tornou-se uma referência de pensamento crítico sobre a pobreza e a riqueza, sobre a relação das crianças com as suas posses -ou a falta delas-. O fotógrafo espera que seu trabalho ajude outras crianças a pensar sobre a desigualdade no mundo, para que, talvez, no futuro pensem como agir para diminuir esta diferença.
Lamine, 12 anos, vive no Senegal. As camas são básicas, apoiadas por alguns tijolos. Aos seis anos, todas as manhãs, os meninos começam a trabalhar na fazenda-escola onde aprendem a escavação, a colheita do milho e lavrar os campos com burros. Na parte da tarde, eles estudam o Alcorão. Em seu tempo livre, Lamine gosta de jogar futebol com seus amigos.
Tzvika, nove anos, vive em um bloco de apartamentos em Beitar Illit, um assentamento israelense na Cisjordânia. É um condomínio fechado de 36.000 Haredi. Televisões e jornais são proibidos de assentamento. A família média tem nove filhos, mas Tzvika tem apenas uma irmã e dois irmãos, com quem divide seu quarto. Ele é levado de carro para a escola onde o esporte é banido do currículo. Tzvika vai à biblioteca todos os dias e gosta de ler as escrituras sagradas. Ele também gosta de brincar com jogos religiosos em seu computador. Ele quer se tornar um rabino, e sua comida favorita é bife e batatas fritas.
Jamie, nove anos, vive com seus pais e irmão gêmeo e sua irmã em um apartamento na quinta Avenida em Nova Iorque. Jamie frequenta uma escola de prestígio e é um bom aluno. Em seu tempo livre, ele faz aulas de judô e natação. Quando crescer, quer se tornar um advogado como seu pai.
Indira, sete anos, vive com seus pais, irmão e irmã, perto de Kathmandu, no Nepal. Sua casa tem apenas um quarto, com uma cama e um colchão. Na hora de dormir, as crianças compartilham o colchão no chão. Indira trabalha na pedreira de granito local desde os três anos. A família é muito pobre para que todos tenham que trabalhar. Há 150 crianças que trabalham na pedreira. Indira trabalha seis horas por dia além de ajudar a mãe nos afazeres domésticos. Ela também freqüenta a escola, a 30 minutos a pé. Sua comida preferida é macarrão. Ela gostaria de ser bailarina quando crescer.
Kaya, quatro anos, mora com os pais em um pequeno apartamento em Tóquio, Japão. Seu quarto é forrado do chão ao teto com roupas e bonecas. A mãe de Kaya faz todos os seus vestidos e gostos -Kaya tem 30 vestidos e casacos, 30 pares de sapatos, perucas e um sem contar de brinquedos. Quando vai à escola fica chateada por ter que usar uniforme escolar. Suas comidas favoritas são a carne, batata, morango e pêssego. Ela quer ser cartunista quando crescer.
Douha, 10, mora com os pais e 11 irmãos em um campo de refugiados palestinos em Hebron, na Cisjordânia. Ela divide um quarto com outras cinco irmãs. Douha freqüenta uma escola, a 10 minutos a pé, e quer ser pediatra. Seu irmão, Mohammed, matou 23 civis em um ataque suicida contra os israelenses em 1996. Posteriormente, os militares israelenses destruíram a casa da família. Douha tem um cartaz de Maomé em sua parede.
Jasmine (Jazzy), quatro anos, vive em uma grande casa no Kentucky, EUA, com seus pais e três irmãos. Sua casa é na zona rural, rodeada por campos agrícolas. Seu quarto é cheio de coroas e faixas que ela ganhou em concursos de beleza. A garota já participou de mais de 100 competições. Seu tempo livre é todo ocupado com os ensaios. Jazzy gostaria de ser uma estrela do rock quando crescer.
A casa para este garoto e sua família é um colchão em um campo nos arredores de Roma, Itália. A família veio da Romênia de ônibus, depois de pedir dinheiro para pagar as passagens. Quando chegaram em Roma, acamparam em terras particulares, mas foram expulsos pela polícia. Eles não têm documentos de identidade, de forma que não conseguem um trabalho legal. Os pais do garoto limpam pára-brisas de carros nos semáforos. Ninguém de sua família foi um dia para a escola.
Dong, nove anos, vive na província de Yunnan, no sudoeste da China, com seus pais, irmã e avó. Ele divide um quarto com a irmã e os pais. A família tem uma propriedade que permite cultivar quantidade suficiente de seu próprio arroz e cana de açúcar. A escola de Dong fica a 20 minutos a pé. Ele gosta de escrever e cantar. Na maioria das noites, ele passa uma hora fazendo o seu dever de casa e uma hora assistindo televisão. Dong gostaria de ser policial.
Roathy, oito anos, vive nos arredores de Phnom Penh, Camboja. Sua casa fica em um depósito de lixo enorme. O colchão de Roathy é feito de pneus velhos. Cinco mil pessoas vivem e trabalham ali. Desde os seis anos, todas as manhãs, Roathy e centenas de outras crianças recebem um banho em um centro de caridade local, antes de começar a trabalhar, lutando por latas e garrafas de plástico, que são vendidos para uma empresa de reciclagem. Um pequeno lanche é muitas vezes a única refeição do dia.
Thais, 11, mora com os pais e a irmã no terceiro andar de um bloco de apartamentos no Rio de Janeiro, Brasil. Ela divide um quarto com a irmã. Vivem nas vizinhanças da Cidade de Deus, que costumava ser conhecida por sua rivalidade de gangues e uso de drogas. Thais é fã de Felipe Dylon, um cantor pop, e tem pôsteres dele em sua parede. Ela gostaria de ser modelo.
Nantio, 15, é membro da tribo Rendille no norte do Quênia. Ela tem dois irmãos e duas irmãs. Sua casa é uma pequena barraca feita de plástico. Há um fogo no centro, em torno do qual a família dorme. As tarefas de Nantio incluem cuidar de caprinos, cortar lenha e carregar água. Ela foi até a escola da aldeia por alguns anos, mas decidiu não continuar. Nantio está esperando o seu moran (guerreiro) para casar. Ela só tem um namorado no momento, mas não é incomum para uma mulher Rendille ter vários namorados antes do casamento.
Joey, 11, mora em Kentucky, EUA, com seus pais e irmã mais velha. Ele acompanha regularmente o seu pai em caçadas. Ele é dono de duas espingardas e uma besta, e fez sua primeira vítima -um cervo- quando tinha sete anos. Ele está esperando para usar sua besta durante a temporada de caça seguinte. Ele ama a vida ao ar livre e espera poder continuar a caçar na idade adulta. Sua família sempre come carne de caça. Joey não concorda que um animal deve ser morto só por esporte. Quando não está caçando, Joey freqüenta a escola e gosta de ver televisão com o seu lagarto de estimação, Lily.

Dica do Carlos Sampaio e da Regina Manescky. Aqui também tem.

sábado, 9 de abril de 2011

E Então, Que Quereis?...



Fiz ranger as folhas de jornal
abrindo-lhes as pálpebras piscantes.
E logo de cada fronteira distante
subiu um cheiro de pólvora perseguindo-me até em casa.
Nestes últimos vinte anos nada de novo há
no rugir das tempestades.

Não estamos alegres, é certo, mas também por que razão
haveríamos de ficar tristes?
O mar da história é agitado.
As ameaças e as guerras, havemos de atravessá-las,
rompe-las ao meio,
cortando-as como uma quilha corta
as ondas.

Maiakóvski (1927)

Minha Lua Crescente

Me espanta que ela tenha vivido tanto... Começa que ela nasceu pequena, tão pequena que foi deixada de lado pela mãe em dedicação quase exclusiva ao resto da ninhada. Me lembro bem desse dia: a mãe estava presa em uma outra cela para que pudéssemos escolher os filhos em relativa calma. Na grade principal, onde estavam os pequenos, todos se colocavam no gradil em busca do afago e da escolha. Ela não. Ficou o tempo todo em pose aristocrática, no fundo do canil, em olhar firme e decidido àqueles que poderiam ser seus donos. Em momento algum ela latiu e fiquei curioso com aquela atitude. Pedi para vê-la e foi incrível o que aconteceu: fui escolhido. Pequenina, com pouco mais de três meses, ela me lambia e tentava escalar pelos meus braços. E então escutei os latidos, baixos mas fortes, prenuncio de cachorro valente. E se escolhido fui, sacramentei tudo e viemos embora. Seu nome seria Luna.
Logo depois surgiu um tumor em uma das patas e não demorou para que ela não pudesse andar. Foram dois meses internada, duas clínicas diferentes, quatro médicos-veterinários e seis operações. No final, o problema marcado de forma definitiva nas cicatrizes, recebemos a pior das notícias: em uma das clínicas ela havia contraido cinomose, doença que é quase uma sentença de morte para um cão. Ela estava com seis meses quando diagnosticamos e não havia muito a ser feito: segundo os médicos, ela já havia passado por todas as fases da veloz doença (febre, secreção nasal e ocular, indisposição, anorexia, depresão, vômito, diarrei, desidratação, leucopenia, dificuldades respiratórias, hiperceratose do focinho e dos coxins plantares, mioclonia e sintomatologia neurológica) e estava no final de tudo, já nessa terrível sintomatologia neurológica
"Não sei como ela chegou até aqui", "Ela não vai sobreviver muito tempo" e o temível "Melhor sacrificar" foram as frases que mais escutamos, mas preferimos ver o quanto ela aguentaria, ela que havia sido sempre tão valente. Pois acreditem, ela não somente sobreviveu como teve mínimas seqüelas: o andar, que já era balançante por conta do tumor, ganhou um ritmo especial, um jeito de correr que era só dela. Quem a visse em disparada pelo jardim poderia crer que se seguiria feia queda, ou que a cadela estava bêbada - mas ela corria mais rápida que todos os outros cachorros. Corria sim.
Depois disso, creio eu, ela teve uma boa vida, dona de um enorme quintal, um grande canil e ração farta. Conseguimos um veterinário que fazia visitas semanais e tudo parecia sob controle. Foi quando ela deu provas do seu valor: um dia a casa foi assaltada, ou houve uma tentativa. O plano dos bandidos era abrir o portão e esperar que todos os cães fugissem para concretizar o crime. E como era de se esperar, e ninguém pode culpá-los, todos os cachorros escaparam em busca dos prazeres sempre negados da rua. Menos ela. Enquanto os demais passeavam e namoravam, curtindo a liberdade, ela ficou sentada no portão em gesto agressivo e protetor. Segundo contou uma testemunha, os homens ficaram por quase 30 minutos esperando que ela abaixasse a guarda, mas não esperavam que ela se mantivesse firme. Quando foram embora, a situação aparentemente controlada, ela fez o inimaginável: se postou embaixo da minha janela e começou a latir de forma curta e sofrida. Intrigado com aquilo, não demorei a acordar e descobri-la deitada ali, o olhar triste como se pedisse ajuda. Estranhei a ausência dos outros bichos e não tardei a descobrir o ocorrido. Chamamos a polícia, fizemos todos os procedimentos e comemoramos a heroína. Não sei o que teria acontecido, nada descoberto e um mundo de suposições, mas certamente ela nós poupou de algo ruim.
Com a fama e a moral elevada, os outros bobalhões que de guarda só tinham o nome, Luna se tornou conhecida na vizinhança e logo arranjou um namorado. Era um bom cão, se chamava Bidu e não viveu muito (maldita cinomose, doença que mais detesto). Enquanto estiveram juntos foram felizes e, antes de morrer, ele deixou um presente para sua companheira: uma surpreendente ninhada.
Por conta de todo o histórico de saúde, Luna foi acompanhada dia e noite por médicos. Fizemos todos os exames e nos revezávamos ao lado dela. No dia do parto, lembro bem, estava no meio de audiências. Larguei tudo e me meti no canil. Fiquei ali, sentado no chão, ela deitada ao meu lado enquanto o veterinário cuidava de tudo. O clima era pesado, cheio de intranqüilidade e  aparente sofrimento. O veterinário estava visivelmente preocupado. 
E como foi trabalhoso aquilo: o parto começou às 13 horas de um dia e só terminou ao meio dia seguinte. Durante todo esse tempo, Luna suportou com serenidade todas as dores, exatamente como era dela. Ela só não suportou quando suas crias começaram a nascer e não se mexiam, imobilidade que somente a morte pode ofertar. Ela foi uma boa mãe, livrava os bichinhos da placenta e os lambia, se esforçava para que eles se mexessem e esboçassem alguma reação. E a cada tentativa ela me olhava, eu que já não segurava o choro, e sentia como se ela me perguntasse "o que estava acontecendo". "Não sei o que está acontecendo", era só o que conseguia pensar (e nunca soube explicar o porque de a sorte ter sido especialmente cruel com ela em determinados momentos). No final, o veterinário só conseguiu salvar dois dos  nove filhotes, a Preta e a Pintada - ouvimos que, provavelmente, havia sido culpa da cinomose, ou algum tipo de seqüela do tumor anterior. Soubemos de tantas coisas e não soubemos de nada, afinal.
Nos últimos anos, depois da separação, eu pouco convivi com ela. Me limitava aos breves afagos por entre a grade, ela que sempre foi exemplo de carinho e dedicação a mim, e sei que sobreviveu a muitas coisas, muitas brigas, e que vivia feliz no enorme quintal, ela e suas filhas, em alegres brincadeiras com meus filhos.
Há um mês, com poucos seis anos de vida, Luna começou a mancar mais intensamente e, um dia, não conseguiu levantar. Novas visitas de diversos veterinários que, novamente, não souberam explicar o que acontecia. Hoje, dia 09 de abril de 2011, ela não acordou. Deitou para dormir e resolveu que assim seria melhor, ficar quieta e serena. Talvez estivesse cansada de tanta atribulação na vida ou, quem sabe, simplesmente não haja nenhuma explicação, as coisas todas que pararam de funcionar e pronto. Fim. 
O enterro foi hoje mesmo, em um dos cantos do quintal, justamente onde ela gostava de pegar sol todas as manhãs.
De cima para baixo: Bombom, Pintada e Luna (única foto que tenho dela)
E para todas as coisas sem respostas, muitas outras se revelaram claras e certas: o quintal não será mais o mesmo e nem será a mesma brincadeira das crianças, o cão-cavalo preferido por sua paciência e sabedoria, o cachorro enorme e confiável que soube sofrer de forma valente e também soube dar lições. Não abandonar, não desistir e não fraquejar. Ser leal e ser firme. Ser valente ao mesmo tempo que dura e carinhosa. E hoje a Lua não se põe, eis que foi feliz.

Segredo do Chupa-Cabra





Descoberto o verdadeiro Chupa-Cabra.
Enviada pelo Wagner Mello, tirada do Jesus Kid.

Domisteco no Comida di Buteco

O Domisteco recebeu convite para participar do 1º Comida di Buteco de Belém, concurso gastronômico que elege, em várias cidades, o boteco com a melhor comida. Tudo começou em 2000 na cidade de Belo Horizonte, MG, com apenas 10 botecos concorrendo. Hoje o concurso acontece em 15 cidades e registra, somente em BH, um público estimado de 800 mil pessoas por edição, com mais de 160 mil votos nos pratos participantes.
Segundo Leonardo Aquino, assessor de imprensa do evento aqui em Belém, serão 16 bares participantes. A lista ainda é sigilosa e será divulgada somente na noite da caravana inicial, na quarta-feira, 13 de abril (o local de partida ainda não foi definido. Assim que souber, aviso a vocês).
Nesta primeira noite haverá visita a três dos 16 botecos e já vamos experimentar alguns dos petiscos que estarão na votação. Para mais informações, se deliciem no site do Comida di Buteco e no Twitter @_comidadibuteco. E acompanhem aqui no Domisteco e no Twitter @tantotupiassu.

Frutos do Mar

Vocês preferem lagosta ...
 ... ou Lula?

quinta-feira, 7 de abril de 2011

O que vemos e o que as crianças vêem!










Enviada pela Regina Maneschy.

O resultado



- Papai, por que ele fez isso?
- Filha... Acho que a gente nunca vai ter essa resposta.
- Mas esse colégio não tinha segurança? Como ele entrou com as armas?
- Ele enganou a segurança, disse que ia dar uma palestra e entrou.
(silêncio)
- E isso não pode acontecer aqui, pai?
- Não, filha! Nunca! Nunca aconteceu e nem vai mais acontecer.
- Você tem certeza, papai?
- Tenho, filha. Tenho certeza.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

As regras

Panorama. Holofote. Felipe Patury. Revista Veja desta semana.
A nota segue um roteiro imprevisível e começa deixando algo claro:
"Até os adversários do diretor de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, o reconhecem como um dos quadros de maior competência da estatal". Maravilha! Significa dizer que o cara é bom e que mesmo quem não gosta dele o admira. Segue a nota: "Apesar disso, sua permanência no cargo não está garantida."
- Poxa, que pena! - deve pensar quem concorda que perder um dos quadros de maior competência é algo triste e indesejável, ainda mais em uma empresa como a Petrobras. E por que o perderemos? "De acordo com Palocci [ministro da Casa Civil], Costa tem muitos apoios políticos, mas não os adequados."
Mas ele não é reconhecido pela sua incrível competência, mesmo por seus adversários? E o que seriam apoios políticos inadequados?
"Ele chegou ao posto graças [à] (...) ala do PP envolvida com o mensalão e chefiada pelo falecido deputado José Janene (PR). No último governo, recebeu também o aval da ala mensaleira do PT e do PMDB do Senado."
Então ele teve apoio de gente ligada ao PT, que agora é criticada e afastada pelo próprio PT, e acabou se mostrado "um dos quadros de maior competência da estatal". E agora, como resolver esse impasse?
A solução: "Alertado por Palocci, o líder desse partido [PMDB] na casa, Renan Calheiros (AL), tenta encontrar o endosso certo para o diretor."
Mas então eu pergunto: o endosso certo já não foi encontrado? Não seria a reconhecida competência? Afinal, o homem é considerado, mesmo pelos adversários, "um dos quadros de maior competência da estatal"? Não há mérito nesse reconhecimento ou o mérito é somente o endosso correto? E que dizer do endosso anterior, que seria razão mais do que suficiente para um afastamento ou, mesmo, uma não nomeação?
O fato é que nada muda, continuam as mesmas regras (e a crítica vale para todos os partidos e para todos os níveis de governo): fica quem tem o apoio correto e dane-se o mérito!
Quem não tiver apoio roda, mesmo que seja "um dos quadros de maior competência da estatal" - o que, em se tratando de Petrobras, significa muita coisa.