terça-feira, 13 de agosto de 2013

Eis o Besta


Entro no elevador e aperto no meu andar. Dentro estavam três pessoas somente, contando comigo. Uma delas era a moradora do 14º andar, logo a reconheci, e como não vi outro andar marcado no painel, somente o meu e o 14º, pressupus que a terceira passageira fosse a mãe da moradora do 14º andar que, como já disse, reconheci.
Uma informação sobre a família do 14º andar – são pessoas muito carinhosas e educadas. Sempre vejo a filha acompanhando o pai, e vejo que existe um clima muito bom de companheirismo e amor entre eles. Só vi a mãe uma única vez, mas, realmente, não prestei atenção na sua fisionomia.
Como a menina do 14º andar estava bem ao lado da mulher, a terceira passageira, e como não havia nenhum outro andar marcado no painel, ou assim eu achava, lógico supor que aquela era a mãe da menina do 14º andar.
E, como eles sempre puxam papo comigo, puxei papo com ela, a suposta mãe. Papo vai, papo vem, o elevador para no 8º andar e a mulher, suposta mãe, começa a sair.
Na minha cabeça acendeu o alerta – ELA VAI DESCER NO ANDAR ERRADO. SALVE-A, FLIPER.
Nesta hora surge o quarto passageiro que estava, até então, escondido, esperando o momento certo para se revelar – o Besta.
O Besta então olhou para a mulher, com sua melhor cara de besta, e olhou para a suposta filha, ainda com sua exemplar cara de besta, avisando com o olhar desesperado que a suposta mãe estava descendo no andar errado.
O Besta olhou para a suposta filha pedindo socorro com os olhos – EI, EI, SUA MÃEZINHA ESTÁ DESCENDO NO ANDAR ERRADO. NÃO PERMITA.
E como ninguém fazia nada, nem a suposta mãe que descia no andar errado, nem a suposta filha, apática diante do suposto erro, o Besta resolveu fazer melhor e falou.
- A senhora está descendo no andar errado, minha senhora.
- Não, esse é o meu andar...
Já comovido com aquela mulher completamente enganada por seus sentidos, o Besta ainda colocou de forma educada a mão no braço da mulher e disse, bem carinhoso, como se falasse com um bobo teimoso:
- Não, esse é o 8º andar e a senhora mora no 14º andar.
- Não, meu querido, eu sempre morei no 8º andar.
Diante da mulher que só podia estar fora de si, o Besta ainda virou para a suposta filha, que olhava tudo sem entender nada, e disse:
- Sua mãe está descendo no andar errado.
E a suposta mãe, já com seu pior olhar piedoso, responde ao Besta.
- Também nunca fui mãe dela – e fechou a porta.
Clima de velório no elevador...
Visivelmente assustada, quem sabe trancada naquele cubículo à mercê de um perigoso doido, a suposta filha fitava o Besta meio temerosa, com as costas grudadas na cabina.
- Desculpa, eu realmente achei que era sua mãe.
- Nem de longe ela parece minha mãe.
Aí o besta achou melhor se calar, chegar em casa, fechar as janelas, passar uma semana trancado, fazer as malas e se mudar na calada da noite, escondido, ainda mais agora que os vizinhos devem estar achando que ele faz o combo drogado/babum/perturbado/retard.
Desculpem, vizinhos.