domingo, 22 de setembro de 2013

Outra do Besta

Voltando de viagem, cansado e fora de casa fazia cinco dias, já chegava na Praça da República por volta das 12:30 quando pego um senhor engarrafamento na Tiradentes, tudo parado por conta do sinal. 

Eu e o taxista já sem assunto, aquele clima sem graça no ar, quando nossa fila anda um pouco mais e avançamos. 

Nessa história de avançar, vejo que passamos por um carro idêntico ao da minha mãe, inclusive, com minha mãe dentro. Como ela também é minha vizinha, além de mãe, nada assustador encontrá-la na rua que vai para casa.

Comento tal fato com o taxista:

- Olha, é minha mãe aqui ao lado! Ela nem deve saber que voltei de viagem.

O taxista responde com um sorriso feliz diante da coincidência, o que faz surgir um personagem até então escondido no carro: o Besta.

O Besta diz:

- Já sei, vamos fazer uma surpresa para minha mãe. Estamos uns três carros adiante, então vá atrasando o trânsito até emparelharmos...

E o taxista, gente boa, boa-fé, começou a atravancar o fluxo de propósito para ficar bem ao lado do carro da mãezinha do Besta, feliz por promover um encontro familiar tão inesperado.

Carros buzinando, todos com pressa para chegar onde deviam, e aquele homem lerdando no meio da pista, sorriso bobo no rosto, pronto para fazer uma boa ação.

Com somente um carro de diferença, o Besta diz:

- Acho que já dá para ela me ver.

Enquanto escutava buzinas e mais reclamações, o Besta abre a janela e coloca os braços para fora dando tchau, com seu sorriso mais bobo-besta-emocionado pelo encontro materno.

- Mãe!!! MÃE!!! MÃAAAAE...

Nem lhe deu bola a mãe, então volta para dentro cabisbaixo e o taxista o consola:

- Calma, Dr., ela ainda está longe. Deixa chegar mais perto e o senhor tenta novamente.

Menos de meio carro de diferença, novamente o corpo para fora chamando atenção da saudosa mãezinha, mas nada ainda. Grita mais alto e nada. Faz mais adeus com os braços e nada.

Então, a fila do lado anda e o carro da mãe fica bem ao lado do Besta, janela com janela.

Taxista e passageiro se olham com cumplicidade. Agora sim, ela vai ver.

Corpo quase todo para fora, mãos a quase tocar no vidro do carro ao lado e taxista buzinando em ritmo de comemoração de final da Copa.

Na calçada, duas senhoras param para ver a cena. No carro da mãe, nenhum sinal de terem percebido o Besta, então, num último esforço, ele se estica e faz um toc toc na janela da motorista.

Felicidade. FELICIDADE.
A mãe o percebe e começa a abrir o vidro.

Alegria realizada, finalmente, a não ser por um pequeno detalhe: não era a mãe.

Era alguém muito parecida com a mãe, num carro igual ao da mãe e na rua onde a mãe mora, mas não era a mãe.

O que restava fazer com a assustada mulher que lhe encarava de forma inquisidora naquele engarrafamento?

- Desculpa senhora... Achei que fosse minha mãe.

Visivelmente braba, o Besta ainda pôde escutar um "tá doido..." enquanto a mulher, agora ex-sua mãe, fechava o vidro na sua cara.

De volta ao taxi, clima de total constrangimento somente quebrado pelo seguinte diálogo:

- O senhor está fora de casa faz tempo?

- Estou fora faz uns cinco dias, mas vejo minha mãe sempre...

- E daz tempo que não vê sua mãe?

- Desculpa, amigo, mas ela era tão parecida que realmente confundi. Incrível. Desculpe.

- O problema, Dr., é que o senhor não deve ser nada parecido com o filho daquela senhora. Só isso.

Sábio taxista.

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